Os países de tradição católica são ávidos importadores. Mas importadores de quê, o que é que eles importam? Tudo, desde a coisa mais útil que existe no mundo até à maior futilidade, passando por todos os graus intermédios. No dia em que deixarem de o fazer, a sua cultura deixará de ser católica ou universal.
Numa entrevista recente à televisão, o ex-ministro da Saúde, Correia de Campos, depois de enumerar as dificuldades que teve para controlar os custos da saúde, indicou uma que lhe parecia especificamente portuguesa. Disse ele que, quando aparece algum produto novo no estrangeiro (medicamento, tecnologia de diagnóstico, etc.), às vezes mal saído do laboratório, às vezes nem sequer ainda comercializado no país de origem, os hospitais portugueses querem-no logo adquirir. Somos muito permissivos, aceitamos tudo, concluiu ele. (No jargão popular, engolimos facilmente toda a traquitana que nos queiram impingir, desde que venha do estrangeiro).
Mais recentemente, um médico falando-me sobre o mesmo problema, referia uma nova técnica de diagnóstico de AVC's, importada do estrangeiro (donde é que havia de ser?) e caríssima. Disse ele que a técnica tradicional produz os mesmos resultados e a muito mais baixo custo. No final da conversa, encolheu os ombros: o que é que se há-de fazer...?
Quem visite Portugal fica a pensar que este é um país com uma enorme tradição tecnológica, e não apenas na saúde. Basta percorrer as estradas. Dificilmente se encontra em algum país dos mais ricos aquela parafernália de tecnologia utilizada a cada dez quilómetros das SCUT's para o pagamento automático das taxas. Mesmo nas auto-estradas convencionais, praticamente os portageiros desapareceram para dar lugar à tecnologia. E o que dizer daquele detalhe das bermas rugosas para acordar os automobilistas que tenham adormecido ao volante?
Um país de tecnologistas? Não, nada disso. A tecnologia não é propriamente um produto da cultura católica. Na realidade, é um produto da cultura protestante, seguramente a maior contribuição dada pelo protestantismo à civilização. Não, Portugal não é um país de tecnologistas. É um país de vorazes importadores.
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