30 janeiro 2012

Perdem sempre

Imaginem-se dois homens que divergem radicalmente acerca de uma certa questão, e a respeito dos quais se aplica a cláusula ceteris paribus, são iguais em tudo (formação académica, estatuto social, experiência de vida, etc.), excepto num ponto - um deles foi nascido e criado numa cultura católica, o outro numa cultura protestante.

Estes homens decidem dirimir a sua divergência por debate intelectual. Quem vai prevalecer, quem tem razão no debate, quem possui a verdade?

Em princípio, será o católico. (Pelo contrário, se eles decidissem resolver a questão pela violência, em princípio ganharia o protestante).

Os protestantes separaram-se da comunidade universal (literalmente, igreja católica) e, portanto, do mundo. Separaram-se com uma atitude de superioridade moral, de que a comunidade universal (igreja católica) estava corrompida nas suas práticas e nas suas tradições. Não lhes interessava mais a comunidade universal (igreja católica), interessava-lhes apenas a sua comunidade local que eles iriam construir de novo e em forma pura e cristã. Não olhariam para o lado porque não tinham nada a aprender com tudo aquilo que existia à sua volta - a comunidade universal.

Assim surgiram as seitas protestantes - o luteranismo, o calvinismo, o anglicanismo, que mais tarde, sob os mesmos argumentos, se subdividiram em milhares de outras seitas.

O que é que caracteriza o espírito de seita? Em primeiro lugar e acima de tudo, a sua estreiteza de espírito, a sua obstinação em não olhar para o lado, a sua determinação em levar por diante o seu projecto até o fim, à revelia do mundo que considera corrompido.

O homem educado na cultura protestante é um homem assim, é um homem estreito de espírito, determinado e com um objectivo a atingir. O seu espírito é como uma avenida, que por mais larga que seja, é sempre estreita em relação ao mundo, e uma avenida que desemboca num largo sem saída. Quem garante que esse largo se chama o Largo da Verdade? Ninguém. Só por acaso se chamará assim.

Pelo contrário, o espírito de um homem educado na cultura católica é diferente, é um espírito aberto, universal, é um espírito que contempla o mundo. Ao contemplar o mapa do mundo, ele acaba por saber onde fica o Largo da Verdade e todas as ruas e atalhos que a ele conduzem.

O espírito protestante é um espírito de homem, fixo, determinado, fechado, que só olha para a frente, e por isso a cultura protestante é uma cultura masculina. Pelo contrário, o espírito católico é um espírito de mulher, aberto, amplo, flexível, que olha em todas as direcções, para a frente, para trás e para os lados, e por isso a cultura católica é uma cultura feminina.

Naquele seu percurso fixo, pré-deterrminado, sempre em frente, só por sorte o protestante chega ao Largo da Verdade. O católico, pelo contrário, antes de partir já viu o mapa todo, já localizou o Largo da Verdade, e quando avança é para lá chegar de certeza, e até escolhe o caminho.

O católico vai ganhar o debate, é ele que chega à Verdade. E isso explica porque é que os protestantes se recusam a debater com os católicos. Perdem sempre. Na melhor das hipóteses - se tiverem sorte - empatam, isto é, estão de acordo.

Significa isto que a Verdade está com as mulheres, é um atributo das mulheres, e não dos homens? Sim, também significa isso, a Verdade é um atributo feminino.
Ao separarem-se da Igreja Católica, os protestantes rejeitaram também o culto de Maria, para se concentrarem exclusivamente na figura de Cristo - o princípio protestante "Solo Christus". Ora, a figura de Cristo, separada da figura da Virgem, pode muito bem ser a figura de um impostor, de um charlatão, de um propagandista e de um aldrabão - e foi esse o significado que os judeus lhe atribuiram. Neste ponto, os protestantes aproximam-se da posição judaica, ou para lá caminham.
E esta convergência explica por que é que a seguir à Reforma os judeus se uniram aos protestantes na sua luta contra a Igreja Católica, a tal ponto que ainda hoje os judeus fora de Israel vivem sobretudo em países protestantes. Também é certo que acabaram por pagar um preço elevado por tão estreita amizade.
A Verdade em que assenta a civilização cristã, que é comum a católicos e protestantes, é a da divindade de Cristo, a de que Cristo era filho de Deus, e não de um homem qualquer - caso em que Ele não passaria, afinal, de um charlatão. Essa Verdade só uma pessoa a tem, e só ela a pode confirmar (ou infirmar). Essa pessoa é uma Mulher.

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