29 janeiro 2012

deserta

Existe uma questão que eu trago no espírito há cerca de 30 anos, sem nunca a ter conseguido resolver. Foi quando, no início dos anos 80, li o livro do teólogo católico, Michael Novak, The Spirit of Democratic Capitalism (tradução portuguesa: O Espírito do Capitalismo Democrático), que teve uma profunda influência em mim.
Em certa passagem, referindo-se a Portugal e a Espanha no período da Reforma Protestante (início do século XVI), Novak escreve mais ou menos assim (cito de memória por não ter o livro à mão): "Naquela altura, a Espanha e Portugal eram países grandes e influentes no mundo. Mas os teólogos católicos não compreenderam o segredo íntimo que os levou tão alto. E, não fazendo caso disso, perderam-no. Para as suas colónias no Novo Mundo, assim como para os seus países de origem, isto foi uma calamidade" (isto é, ficaram pobres, em contraste com a protestante Inglaterra e as suas colónias no Novo Mundo - os EUA e o Canadá).
Ficou-me a convicção na altura de que a Reforma Religiosa se saldou por uma estrondosa derrota do catolicismo no campo das ideias. Mas como, se os grandes intelectuais da época estavam todos ligados à Igreja Católica, se as próprias universidades eram todas católicas porque tinham sido fundadas pela Igreja, e os seus professores eram, quase exclusivamente, padres católicos? Onde é que os protestantes foram buscar os recursos intelectuais para ganharem uma batalha que, à partida, parecia tão desigual em favor da Igreja?
Eu hoje continuo a pensar que os protestantes ganharam copiosamente a batalha das ideias. Mas o mistério acerca de como o fizeram está para mim desvendado. Foram muitas pequenas peças de evidência - às primeiras, eu nem sequer dei importância -, coleccionadas ao longo de todos estes anos, que me levaram à conclusão. Os protestantes ganharam a batalha das ideias porque impediram os católicos de nela participar. Excluiram-nos pela proibição legal nuns casos, pela força física, pela agressão e pela perseguição, noutros. Foi como um jogo de futebol em que uma das equipas, tendo impedido fisicamente a outra de entrar em campo, fica ali o tempo todo sozinha a marcar golos na baliza deserta do adversário.

Sem comentários: