A descoberta que fiz há semanas de que a cultura católica é uma cultura de tudo e a cultura de maior liberdade que existe, e que, Portugal, sendo um país profundamente católico, é um país de tudo, um verdadeiro mundo em miniatura, deu-me uma satisfação tão grande que é difícil descrever. Como é que a felicidade pode chegar através de uma ideia ainda me custa a crer. Pôs-me num novo patamar, a partir do qual eu estou agora convencido de que vou conseguir ver mais longe.
Demorei anos a lá chegar e recordo alguns episódios intelectuais dessa longa estrada. Um deles aconteceu há cerca de dois anos. A minha filha S. telefonou à mãe de Madrid, onde trabalhava, a dizer-lhe que ia mudar de emprego. Tinha decidido aceitar uma proposta de uma empresa farmacêutica em Friburgo, na Suíça. Eu não uso telemóvel e quando a mãe me passou o telefone e eu ouvi a história, concordei que, em termos financeiros, a proposta era muito tentadora, mas preveni-a que ia mudar de uma grande cidade, Madrid (uma cidade que, diria eu hoje, é o mundo) para uma parvónia.
Eu conhecia razoavelmente bem a Suíça, mas não a cidade de Friburgo. Porém, não tive hesitação em chamar a Friburgo uma parvónia, mesmo sem a conhecer, porque todas as cidades suíças são parvónias, mesmo as maiores. Tome o caso de Genève. Quando se lá chega, parece impressionante, uma cidade moderna, aberta, grandes avenidas, lojas exibindo tudo quanto é bom, um altíssimo nível de vida. Mas experimente ir para lá viver. Passado um mês começa a sentir que está isolado do mundo, aquela sensação espiritual de fecho que é característica das parvónias.
Eu fui então para o computador informar-me sobre Friburgo na Wikipedia, enquanto na sala ao lado a minha mulher fazia o mesmo mas através do Google Images. Na Wikipedia eu soube que a cidade tinha 70 mil habitantes, e que dá o nome a um cantão católico da Suíça. Curioso, Friburgo (literalmente, Cidade Livre) é uma cidade católica no meio da muito calvinista Suíça. Fiquei feliz por saber, o choque cultural para a minha filha não seria tão grande. No sul da Alemanha, a pouca distância da fronteira com a Suíça, existe também uma cidade com o mesmo nome. Fui ver. Também esta Cidade Livre (Friburgo) é católica, dentro da muito luterana Alemanha. Curioso, mais uma vez. Nesta região do mundo, que foi o palco das mais violentas guerras religiosas, as Cidades Livres (Friburgos) são católicas. E nós, portugueses, rodeados de catolicismo a cada esquina, andamos a procurar a Liberdade no estrangeiro.
Entretanto, a minha mulher, depois de ver imagens de Friburgo, já me tinha informado do lado: "Olha, isto é Amarante". Fui ver as imagens e confirmei. No nosso espírito, anossa filha iria mudar-se de Madrid para "Amarante". Mais tarde, visitando a cidade, voltei a confirmar. Há partes da cidade que fazem lembrar Amarante. Hoje diria, claro que há, em Portugal há de tudo, é preciso é procurar. Até a parvónia de Friburgo. (Aproveito para esclarecer um possível mal entendido: a comparação termina aqui, porque Amarante, ao contrário de Friburgo, não é uma parvónia. O que é que existe de essencial no mundo que não exista também em Amarante, ou que não se arranje rapidamente? Nada.)
Enfim, duas conclusões. Primeira, as Cidades Livres (Friburgos) do centro da Europa são católicas. Segunda, tudo o que existe no mundo existe em Portugal, pelo menos num cheirinho. Até Friburgo.
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