Eu tenho agora como certo que o povo português não sabe (nem nunca soube, olhando para a história da democracia em Portugal) governar o país. A ruína em que o país se encontra é apenas a confirmação desta verdade (que, infelizmente, só se tornou evidente para mim depois de assistir ao que está a acontecer). Eu tenho vivido nos últimos meses com a vergonha intelectual, perante mim mesmo, de ter sido necessário que a evidência me entrasse pelos olhos dentro para concluir aquilo que devia ter concluido meramente olhando a história de Portugal desde 1820. Que, sempre que o povo governou Portugal, arruinou o país.
Quanto a isto, já nada posso fazer, senão penitenciar-me. Por isso, o meu interesse passou a ser tentar descortinar as razões - ou factores - que tornam o povo radicalmente incompetente para governar o país. Ultimamente, tenho concentrado a minha atenção num tópico muito particular: a forma como o povo português trata Portugal e aquilo que é português relativamente à forma como trata o estrangeiro e aquilo que é estrangeiro. Reporto a seguir duas instâncias das minhas observações.
Há três ou quatro semana, assisti ao programa Prós-e-Contras, da RTP. O tema era a Sáude. Estavam presentes, o actual ministro da Saúde, Paulo Macedo, o ex-ministro Correia de Campos, o Prof. Daniel Serrão e uma gestora do grupo BES para a área da Saúde. Discutiram-se os problemas presentes e passados da Saúde em Portugal, e as soluções adoptadas para eles, ou que eram propostas. O grupo era de respeito, e a minha atenção concentrou-se em como é que eles justificavam as soluções que tinham adoptado, ou que propunham, para os problemas da Saúde em Portugal.
Invariavelmente, a justificação para cada solução era uma experiência estrangeira. Foram, para este efeito, invocados como exemplos, os sistemas de Saúde nos EUA, na Inglaterra, na Alemanha, em França e por aí fora, até na Dinamarca. Fiquei pasmado, tanto mais quanto é certo que, se há área onde os portugueses têm uma excelente tradição, é a área da saúde (outra é a educação primária e secundária).
No Domingo passado, o Vasco Pulido Valente publicou um artigo no Público onde argumentava que Pedro Passos Coelho (sic) estava a lançar a confusão no país. A seguir referiu-se a António José Seguro (sic) com um adjectivo extremamente depreciativo, que ampliou a todos os que fazem parte da direcção do PS. A terceira pessoa que mencionou no artigo pelo nome foi a sra. Merkel (sic).
Pedro Passos Coelho, António José Seguro e sra. Merkel. Ser estrangeiro é outra coisa. Dá direito a ser tratado respeitosamente.
Que tristeza. O povo não tem confiança intelectual em si próprio nem convicções, e também não se respeita a si próprio. Que governação se pode esperar daqui? Imita aqui, imita acolá e no fim acabam todos a chamar-se nomes uns aos outros.
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