14 outubro 2011

o nosso problema é político, não é financeiro

Uma grande empresa torna-se deficitária. As causas, sempre as mesmas: as receitas são inferiores às despesas. Que fazer?
É necessário começar por reflectir sobre a visão e a missão da empresa, para que serve? Que mais-valias cria para os clientes. Qual é o seu “core business”? Quais são as áreas lucrativas e quais são as deficitárias. Há uma regra que diz que 80% do rendimento provém de 20% da actividade, é nessa actividade que a empresa tem de se focar, “sem deitar fora a criança com a água do banho”.
As SBU's (unidades) que estão fora do “core business” e que não são lucrativas têm de ser encerradas. As que são lucrativas têm de ser vendidas.
No fim, a empresa fica mais pequena mas mais robusta e competitiva, “lean and mean”. A rentabilidade aumenta, torna-se atractiva para o capital, expande-se e tem sucesso.
Sem este tipo de “turn-around” é a falência.
Portugal é como uma empresa em dificuldades. O Estado engordou e afastou-se do seu “core business”, a segurança dos cidadãos e a administração da justiça. Expandiu a sua actividade para mil e uma áreas onde há uma hemorragia financeira que vai levar o País à “morte”. Que fazer?
Concentrar-se nas suas responsabilidades fundamentais. A segurança e a justiça não devem, para já, sofrer cortes. A educação, a saúde e a segurança social não são tarefas essenciais do Estado. Devem ser autonomizadas. Todas as outras actividades e empresas do Estado devem ser encerradas ou vendidas.
Cortar os salários a todos os funcionários públicos não resolve o problema. É uma medida de natureza quantitativa, aplicada a um problema que necessita de medidas qualitativas.
Há um mundo de distância entre a macroeconomia e a microeconomia. Aumentar os impostos, ou cortar os salários, não resolve os problemas microeconómicos específicos de cada unidade que está no chamado perímetro do OE. Intuitivamente, eu penso até que algumas soluções macro apenas vão inviabilizar ainda mais algumas “unidades” do Estado, tornando o problema cada vez mais difícil de resolver.
O OE para 2012 não é corajoso, é cego. Estou convencido de que vai agravar os problemas do País. O nosso principal problema não é financeiro e esse é o foco do OE. O nosso principal problema é político (quais devem ser as tarefas do Estado?) e de gestão (como é que vamos atingir os nossos objectivos?). O problema financeiro só tem solução depois de resolver o problema político.
Temos de emagrecer, perdendo gorduras onde é preciso, mas não entrando em caquexia.

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