Os tumultos em Londres expõem a principal causa da financeirização das economias ocidentais. O desrespeito total pela propriedade privada que, na minha opinião, determina a preferência dos investidores pelos valores mobiliários, em detrimento dos activos tangíveis. Desse modo, os investidores garantem a liquidez do capital que passa a poder ser mobilizado, ou deslocalizado, com o simples clique de um rato.
O desrespeito pela propriedade privada começa com o esbulho fiscal, intensifica-se através de milhentas normas e leis que limitam o usufruto da propriedade legítima e, por fim, acaba com o tipo de destruição física a que estamos a assistir em Londres.
Os vândalos consideram-se inimigos dos ricos. Ricos que os governos não se cansam de apontar como os principais responsáveis pela crise. De algum modo, o vandalismo encontra a sua própria justificação no discurso dos responsáveis políticos. Os vândalos estarão a exercer “uma espécie de justiça popular”.
Os ricos, porém, não têm lojas em Tottenham. É muito mais provável que estejam nos seus iates no Mónaco, a especular sobre a dívida soberana italiana ou espanhola, a comprar ouro ou a comprar opções de venda sobre os títulos da dívida que a cidade de Londres deve ter emitido, presumo eu, para financiar os jogos Olímpicos de 2012. Ou a especular sobre a desvalorização da libra, um ponto ou dois multiplicado por milhões dá muito lucro.
Enquanto as economias ocidentais não respeitarem a propriedade privada, só quem estiver sob a acção de psicotrópicos é que pode sequer considerar qualquer outro tipo de investimentos que não os financeiros.
É a vida.
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