06 maio 2011

padre

Padre. A palavra significa pai. Nalgumas línguas, possui mesmo o duplo significado, como no espanhol (padre) e no inglês (father). O que é um pai? Acima de tudo, é aquele que nos protege. Uma sociedade de padres é uma sociedade protegida, onde um pequeno número de homens chama a si a responsabilidade de proteger todos os outros. Foi essa a função de Cristo, é essa a função de um padre, é ainda essa a função de um pai no ambiente restrito da família.

Ter um pai a vida toda significa a possibilidade de ser irresponsável a vida inteira, ter quem nos pague as contas, quem nos apare os excessos e dê a cara por nós. Por isso, uma sociedade onde existem padres - como é a sociedade portuguesa e católica - é uma sociedade onde o povo se pode comportar como uma criança toda a vida. É uma sociedade onde uma das características dominantes do povo é a sua irresponsabilidade de adolescente.

Há pouco, por telefone, o Joaquim levantava a questão de saber se os homens da Troika que estiveram em Portugal são homens de elite. Não, não são. São homens do povo, meros técnicos economistas com experiência profissional e competência naquilo que vieram cá fazer. Na terra deles ninguém os conhece, e até ficaram admirados pela atenção que receberam aqui. Mas são homens do povo que transportam valores de elite. Porquê? Porque nasceram e cresceram em países protestantes.

Quando os padres desapareceram dos países onde o protestantismo triunfou, cada homem e cada mulher do povo - agora desprotegido - teve de adquirir por si próprio os valores que eram exclusivos da elite, isto é, dos padres - responsabilidade, racionalidade, discrição, respeito pelos outros independentemente da sua condição, religiosidade, sentido da verdade e da justiça, etc., caso contrário não iria conseguir viver.

A Troika esteve três semanas em Portugal, e sempre com imensa discrição. Nenhum dos seus membros concedeu entrevistas aos meios de comunicação, apesar, presumo, das centenas de solicitações. Só falaram no final, quando o programa estava concluído, e mesmo nessa altura foram lacónicos. Ouviram membros do governo, mas também pessoas com menos significado institucional ou até nenhum, como dirigentes sindicais, sociólogos, economistas, membros dos partidos da oposição, empresários, etc.

A este propósito, o Joaquim fez uma comparação interessante. Se fosse um português a integrar uma Troika que fosse impôr um plano de austeridade à Roménia, a primeira coisa que fazia quando lá chegasse era dar uma conferência de Imprensa. Depois, só falava com gente importante, gente que mandasse, porque os portugueses só dão importância a gente com poder: primeiro-ministro, ministro das finanças e presidente da república (e não com sindicalistas, empresários, sociólogos, membros dos partidos da oposição). No fim, acabava a impôr ao país aquilo que o governo queria - uma espécie de PEC IV romeno. Tinha sido simpático que é aquilo que um português, acima de tudo, gosta de parecer.

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