09 maio 2011

desperdício



Portugal é uma figura de mulher, e nas circunstâncias actuais, uma figura de mulher desgovernada. É pena que não se chame Portugália - mas é assim que eu a vou tratar - porque o nome reflectiria mais genuinamente a sua natureza feminina. As outras nações católicas da Europa Ocidental - também elas figuras de mulher - têm nomes femininos como a Itália, a Espanha, a Irlanda, ou mesmo a Grécia, cuja cultura ortodoxa é muito próxima da cultura católica.

O paradigma de olhar Portugal como uma figura de mulher é derivado da teologia, segundo a qual a Igreja Católica é uma figura de mulher - Maria -, embora exprimindo-se em caras de homem - os padres. Quando Portugal é governado pela sua elite, a analogia é perfeita porque o povo - a figura feminina - se exprime então através de caras de homem - a elite. Quando em democracia, é o povo que governa, e a Portugália exprime-se então em toda a sua plenitude de mulher, é uma mulher exprimindo-se em caras de mulher - o povo -, e é uma mulher sem homem.

Este paradigma permite compreender, à luz da psicologia feminina, a história de Portugal em regime democrático, a sua situação presente e até antecipar como é que a Portugália se vai comportar nos próximos anos. Neste post pretendo analisar a esta luz, a natureza do desgoverno a que a Portugália chegou. Em que é que se traduz esse desgoverno, o que é que a Portugália fez que a conduziu à situação de insolvência?

Um homem desgovernado gasta dinheiro em excesso com outras pessoas, normalmente com mulheres e vício. Ele esbanja dinheiro. Uma mulher desgovernada faz diferente, gasta dinheiro em excesso consigo própria. Ela desperdiça dinheiro, e foi isso que a Portugália fez ao longo dos últimos anos.

Um mulher desgovernada compra um vestido novo todas as semanas, mesmo se tem cinquenta vestidos no armário, que ela só vestiu uma vez e que não tenciona vestir mais vezes. Faz o mesmo com sapatos, jóias e relógios, ao ponto da cada um destes artigos se converterem em verdadeiras colecções. Ela tem uma casa grande e muito bem decorada, cheia de criados, serventes, jardineiros, e motoristas, a maior parte dos quais perfeitamente dispensáveis. Ela gratifica sumptuosamente todos aqueles que a servem, o cabeleireiro, a menina que lhe lava a cabeça, o rapaz das pizzas e os taxistas que a transportam, que ela já conhece de nome. Também dá liberalmente dinheiro e outros bens aos pobres da vizinhança e aos familiares carenciados. Escusado será dizer que ela não tem rendimento que lhe permita suportar estes excessos.

Os excessos da mulher desgovernada traduzem-se em desperdício, dinheiro gasto em coisas fúteis, que não são necessárias, coisas cuja utilidade não justifica a despesa, às vezes meras réplicas de coisas que ela já tem em abundância, como sapatos, vestidos e jóias, ou em pagar a criadagem absolutamente redundante e desnecessária. É este o comportamento da mulher desgovernada, que é invariavelmente uma mulher vaidosa. Imelda Marcos, a mulher do antigo ditador das Filipinas - um país de tradição católica - tinha dois mil pares de sapatos nas arrumações do palácio persidencial quando o seu marido foi deposto.

É este o problema que está na origem da ruína financeira da Portugália - desperdício. Auto-estradas onde não há carros, piscinas públicas à beira-mar, centros culturais vazios em todas as terras, dez ambulâncias de serviço em Ilhavo e outras tantas em Caminha, fundações e observatórios que não servem para nada - excepto, neste último caso, para observar -, entidades reguladoras que não regulam nada, 306 câmaras municipais (uma por cada quadrado de terreno com 17 Km de lado), com os seus presidentes, vice-presidentes, assessores e funcionários, e ainda as suas assembleias municipais, medicamentos e serviços de saúde gratuitos a quem os pode pagar, e por aí adiante. Mas mesmo arruinada, ela continua a sonhar com TGVs e aeroportos perfeitamente dispensáveis, e com a sua próxima viagem de férias. À Lua.

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