11 abril 2011

pequena política

A proposta de apresentar Fernando Nobre como o próximo Presidente da Assembleia da República, caso o PSD vença as eleições de Junho, encerra uma valiosa lição: a da irrelevância dos movimentos de cidadania na sociedade portuguesa.

Mas comecemos pelos factos: Fernando Nobre candidatou-se às últimas presidenciais com base num único posicionamento: o seu distanciamento face aos partidos políticos. Foi, assim, simplesmente assim - pois não se lhe (re)conheceu mais nenhum fio condutor de ideias acerca do País - que conquistou 14 ou 15% do eleitorado, mas que, bem vistas as coisas, foi até um resultado inferior àquele que Manuel Alegre, então órfão do seu PS, havia obtido seis anos antes. Portanto, ao inverter a sua marcha naquele ponto crítico, Nobre abdicou de 99,9% do seu capital de simpatia. Enfim, é bom que vá aprendendo a pedir desculpa...

De qualquer modo, e independentemente das considerações anteriores e dos comentários políticos que os abutres do costume agora explorarão, aquela súbita inversão de marcha não é o mais importante. Não, o mais importante, neste U-turn, é que, mais uma vez, se demonstra que a opinião pública em Portugal não existe, nem tem qualquer poder de influência. Deste modo, enquanto noutros países é a opinião pública que marca a agenda interna e que, em última instância, marca a governação desses mesmo países, em Portugal esse papel cabe, decididamente, aos partidos e, de quando em vez, à opinião publicada em alguma imprensa. Assim, a desistência de Fernando Nobre tem um valor simbólico, mas profundamente esclarecedor: confirma que no nosso País não se faz política sem estar na (pequena) política.

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