05 abril 2011

para o rating que os parta!

A crítica que, cada vez mais, se pode fazer, indiferenciadamente, à S&P, à Moody's e à Fitch diz respeito ao "timing" e à natureza pró-cíclica das suas avaliações, pelo que, o problema está na atenção que se lhes dá. E na importância que uma dada avaliação tem na elegibilidade dos activos que podem, ou não, fazer parte de uma carteira de investimento. Por exemplo, se a dívida pública portuguesa baixar mais um nível, a partir dos níveis actuais, para o universo dos "junk bonds", muitos fundos de pensões e outros agentes institucionais deixarão de poder investir em Bilhetes e Obrigações do Tesouro português. Na realidade, serão obrigados a vender tudo o que tiverem em carteira, precipitando mais uma onda de vendas naqueles títulos.

Assim, a solução está em reduzir essa importância relativa e em esvaziar o poder das agências de "rating", nomeadamente o destaque que hoje assumem nos mercados financeiros. Como? Abolindo certas restrições ao investimento e a obrigatoriedade de certas qualificações, isentando os emitentes (vendedores) das notações de risco. E responsabilizando, como deve ser, os compradores por qualquer avaliação de risco adicional, para além da due diligence dos próprios. Enfim, não é segredo para ninguém que quem está a vender, seja lá o que for, quase sempre, tenta dourar a pílula. É assim no comércio de automóveis ou na venda de imóveis, logo, na emissão de dívida não será diferente.

Por isso, quem compra é que deve ser responsabilizado pela atribuição de notações de risco que, hoje, de forma perversa, são exigidas, de modo quase obrigatório, aos vendedores e pagas também por estes. Com uma mudança, no sistema de incentivos que suportam o business plan das agências de "rating", conseguir-se-ia melhorar a sua actuação, tornando-as mais sagazes na antecipação da verdadeira qualidade dos activos que qualificam. Porque só assim estariam a defender o seu cliente - o comprador. E porque se não o fizessem, rapidamente, ficariam sem negócio. Regressando ao exemplo do comércio de automóveis, é como comprar um carro usado a um desconhecido, recorrendo ao precioso auxílio de um mecânico amigo. Pelo contrário, como está é que não pode ficar, pois, no regime actual, façam as agências de "rating" bem ou façam mal, há sempre negócio e, como estamos a ver, corre-se sempre o risco de ninguém, nem vendedor (emitente) nem comprador, ficar bem servido!

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