13 abril 2011

O País à venda

Escreve, hoje, o Jornal de Negócios que se o Estado privatizasse as suas jóias da coroa (REN, EDP, CGD, INAPA, TAP, CTT e Águas de Portugal), o proveito dessa acção de privatizações seria de 12 mil milhões de euros, que permitiria reduzir cerca de 7% à dívida pública nacional, permitindo, ainda, porventura, reduzir as necessidades de financiamento que, indirectamente, o sector empresarial do Estado hoje adiciona ao País.

Infelizmente, os números avançados não parecem realistas. Porque, à cabeça, contemplam a venda integral da CGD, por 5 mil milhões, sobre a qual pendem enormes hesitações de todos os políticos - e percebe-se porquê! - da esquerda à direita. Foi a CGD que financiou - e que, ao contrário dos demais, continua a financiar - boa parte desta folia pública e é ela que serve de porto de abrigo ao homens do regime. Mas há outros factores que descredibilizam aqueles números. Refiro-me, nomeadamente, à dívida que, em última instância, o Estado terá de engolir nas empresas "não privatizáveis", a fim de as transformar em "privatizáveis". Sim, porque, no programa alargado de privatizações, ninguém de bom senso poderá imaginar que se vendam as boas empresas do Estado - chamemos-lhes assim - e não se vendam as más. Ou seja, se é para privatizar, então, empresas como a CP, a Refer, os Metros de Lisboa e do Porto, a Carris e os STCP também têm de ser incluídas no programa. O mesmo se passando com a RTP que, conforme as opiniões, ora é má ora é boa.

Em suma, considerando todas as dívidas pendentes, a minha aposta é que, no balanço, o Estado vai pagar para vender as suas participações! Como se preparava para fazer com o BPN. Assim, se estivéssemos num país...normal, diria que esse custo afundado seria para melhor, seria para começar de novo e com cara lavada. Mas como estamos num país...diferente, onde se começam a vislumbrar uma estranhas movimentações do aparato público junto da banca (incompreensíveis se a lógica é privatizar), receio que se estejam a preparar grandes negócios entre o Estado e os mesmos do costume, os tais oligarcas lusos como lhes chama o Joaquim, que, provavelmente, já estarão earmarked para certos negócios...Desta vez, com dinheiro dos estrangeiros!

Seja lá como for, se há sector que está aí para uma revolução de hábitos e mentalidades, esse sector é o das empresas públicas e parapúblicas. E isso, sobretudo se for sem favores nem compadrios, é uma boa notícia. Representa nivelar o plano do jogo, entre aqueles que jogam sem rede de suporte e aqueles que, até agora, jogaram sempre com bolsos sem fundos. E representa, também, uma enorme oportunidade profissional para todos aqueles que, ao longo dos anos, trabalhando no sector público, viram o seu mérito esbarrar no demérito e na burocracia de quem nada queria fazer.

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