15 abril 2011

cut to the chase

O Jornal de Negócios faz hoje manchete com a possível reestruturação da dívida pública portuguesa, na sequência das declarações de ontem do ministro das Finanças alemão que, pela primeira vez, abertamente, falou na reestruturação da dívida grega. Enfim, o assunto finalmente entra na ordem do dia. E ainda bem que assim é, pois é a única forma de a Europa periférica poder, em tempo útil, começar de novo e é também um passo essencial tendo em vista a sobrevivência do euro.

Assim, dado que a necessidade de reestruturar a dívida periférica já consta da agenda pública da Grécia, da Irlanda e, também, de Portugal, sugiro, uma vez mais, que os líderes destes países se reúnam e que, em conjunto, possam renegociar as dívidas em bloco. Uma aliança desta ordem reforçaria o poder negocial daqueles países e, acredito eu, permitiria a obtenção de um perdão de dívida ao estilo do Uruguai 2002 (que, na altura, registou uma adesão voluntária de 93% dos credores) em vez de um default caótico estilo Argentina 2001. Mais, a própria Espanha, até agora mais preocupada em distanciar-se da periferia, poderia eventualmente rever a sua posição, no sentido daquela mesma periferia, beneficiando de uma espécie de free riding negocial e reforçando a posição daqueles países devedores.

Quanto ao euro, é hoje consensual que a Alemanha, e o norte da Europa em geral, beneficiou enormemente da sua introdução, em virtude se ter aberto um mercado único europeu onde a sua competitividade comercial foi alavancada. Portanto, não restam dúvidas de que é do seu interesse que a união monetária permaneça intacta e, sobretudo, que esta se mantenha tal e qual como é hoje. Daí que, se os alemães, secundados por outros países do norte da Europa, conseguirem, como contrapartida do tal perdão de dívida à periferia, negociar o estabelecimento de uma espécie de governo económico europeu - para o qual se revelaram mais competentes -, então, todos ficarão satisfeitos. Nós, porque livrar-nos-íamos de parte substancial das dívidas. Eles, porque assegurariam a sobrevivência do euro e de uma Europa, minimamente, unida.

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