Na sexta-feira passada, o Jornal de Negócios, no suplemento Weekend, publicou uma excelente entrevista ao humorista Nuno Duarte, mais conhecido pelo seu nome artístico: Jel. A dada altura, o Nuno - despindo as vestes do seu personagem - dizia que tinha lido Adam Smith, pois este falava de uma coisa que hoje parece não existir: da ética. E que, entretanto, andava a ler Tocqueville....
Enfim, os leitores deste blogue sabem que tenho uma admiração especial pelo número d' "Os Homens da Luta" e que, ao contrário do que dizem e escrevem alguns opinion makers cá do burgo (como, por exemplo, Miguel Sousa Tavares, que, em geral, eu também aprecio), não me parece que o Nuno Duarte seja um tonto. E, também, não me parece que qualifique como deolindo.
O número d' "Os Homens da Luta" tem um objectivo: motivar a indignação das pessoas, que, do ponto de vista cívico, vivem dormentes, numa monotonia politicamente correcta em que cada dia é apenas mais um dia. O objectivo é, pois, combater essa conformidade. É lutar contra a resignação - como o Nuno Duarte afirmou recentemente numa outra entrevista, à SIC Notícias, e como hoje, noutro contexto, escreve o Pedro Santos Guerreiro.
A minha interpretação (mas admito que esteja equivocado...) do que se passa hoje é a seguinte: o Povo - utilizando a linguagem do Jel e do Falâncio - não quer saber de ideais de esquerda nem de direita; o Povo quer apenas que as regras - a ética, a decência - sejam iguais para todos (ver aqui a minha entrevista preferida, do Mário Crespo ao Nuno Duarte). Assim, ao dar voz a todos os homens que queiram ser da luta - e a manif de 12/03 foi esclarecedora - é porque a sociedade está, genericamente, farta daqueles homens que, de tão tristes e empedernidos que estão, se deixaram resignar, e alguns corromper, por uma coisa, e por um estado de coisas, que já não é nada. Enfim, numa altura em que Portugal se debate com a sua iminente insolvência - financeira e, sobretudo, política -, ameaçando a própria liberdade do País, é sempre bom recordar as palavras sábias de Tocqueville: "Liberty cannot be established without Morality, nor Morality without Faith".
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