Os debates dos noticiários desta noite andaram quase todos à volta da deslocação de amanhã de José Sócrates e Teixeira dos Santos a Berlim, bem como das putativas medidas adicionais que o executivo português possa, ainda, ser forçado a colocar em cima da mesa.
Ora, tendo em conta a mais recente execução orçamental, a de Janeiro, em que o défice caiu exclusivamente por via do aumentos dos impostos, ao arrepio do que foi anunciado no final do ano passado, presumo que Merkel vá pressionar os nossos governantes a cortar na despesa como previsto. E, porventura, passar-nos-á um raspanete. É que se há coisa decepcionante no nosso país, visível nos últimos números, é a incapacidade de domar o Monstro que, mesmo em face de uma situação dramática, teima e persiste em crescer. Enfim, confesso a minha incompreensão. E receio, também, que seja a derradeira prova de que pode já haver uma espécie de amotinação no seio da Administração Pública contra o executivo de Sócrates. Resta saber se essa sublevação interna é contra o actual Governo ou se é, simplesmente, contra a actual política seguida por este (ou, nestas circunstâncias, por qualquer outro) Governo...
Quanto à questão acerca da qual muitos comentadores se questionavam esta noite, se os impostos ainda vão aumentar mais ou não, apesar da imaginação do fisco, presentemente, não conhecer limites, penso que não. A carga fiscal atingiu tal proporção que adicionar mais impostos à factura já existente deixou de ser sustentável. Assim, no plano das receitas, resta uma solução, que, infelizmente, poderá sair da reunião de amanhã em Berlim: o confisco. Refiro-me, concretamente, à absorção, por parte do Estado, do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. São quase 10 mil milhões de euros, ali mesmo à mão de semear, em particular quando ainda recentemente se estabeleceu, na Irlanda, o antecedente na utilização dessa vergonhosa táctica, na altura, para safar os credores franceses e alemães da banca irlandesa.
Enfim, há poucos dias o alemão Weber escrevia no Financial Times que os países periféricos não tinham ainda sequer percorrido metade da maratona que terão de percorrer antes de resolverem os seus problemas de dívida. Hoje, o norte-americano Kenneth Rogoff, em entrevista a um jornal espanhol, disse o mesmo. E nos mercados de dívida os investidores sinalizam algo de semelhante, ao rejeitarem qualquer alívio nas taxas de juro exigidas aos países em apuros ou àqueles em vias de. Em suma, os sinais estão todos aí: preparem-se para a tosquia e para os perdões de dívida que, nos próximos anos, terão de ser negociados, a fim de se poder começar de novo..."that's the endgame".
Ps: Reconhecendo ao Dr. Mário Soares a importância que teve no pós-25 de Abril, raras são as vezes em que consigo concordar com ele. Por isso, quando concordo, tomo nota, sabendo do impacto que a sua opinião tem junto da opinião pública e publicada. Ora, Soares, no seu último artigo na "Visão", defende algo que eu próprio, neste blogue, também já defendi e que me parece crucial nesta fase do campeonato, ou seja, que Portugal e Espanha teriam muito a ganhar se unissem esforços, negociando juntos contra o eixo franco-alemão. É que não esqueçamos: a Alemanha não tem a obrigação de financiar a irresponsabilidade orçamental do sul da Europa, porém, a Alemanha tem muito mais a ganhar, com a manutenção do euro, do que a perder, com a sua derrocada. Assim sendo, nada melhor que jogarmos ao ataque, a fim de convencer Merkel e seus pares que, agora, precisamos todos de fazer contas de subtrair (precisamos, numa só expressão, e não me canso de o repetir, de "perdões de dívida").
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