Tenho uma filha de 26 anos que é economista. Há cerca de dois anos e meio antes de se licenciar começou a procurar emprego. Acabou por encontrar em Madrid, na Daimler (Mercedes), o primeiro emprego da sua carreira. Passado ano e meio recebeu uma oferta sedutora de uma multinacional farmacêutica na Suíça. Trabalha agora em Friburgo.
Este fim de semana veio ao Porto visitar a família e os amigos. Da última vez que tinha cá estado foi no Natal. Nessa altura, assim que desembarcou do avião perguntou-me a sorrir que lhe explicasse que história era essa da escassez de açúcar no país. Não havia escassez de açúcar em mais país nenhum, admirou-se ela. Rimos os dois, eu disse-lhe que era uma daquelas histórias recambolescas que faziam parte da cultura portuguesa.
Desta vez, a pergunta foi, ainda com um grande sorriso, e uma gargalhadas sonoras: "Explica-me lá o que é isso dos Deolinda". Eu expliquei-lhe que era uma grupo musical que cantava uma canção lamurienta acerca da geração dela. Ela foi à internet ouvir a canção e riu-se até fartar. Depois, comentou muito portuguêsmente: "Só neste país!..."
Acabei de a ir levar ao aeroporto, de regresso ao trabalho. Pelo caminho contou-me que ontem foi jantar com uns amigos. Conheceu um rapaz da idade dela, que é engenheiro, que durante o jantar não parou de se lamentar sobre a falta de oportunidades de emprego no país, sobre os salários de miséria, etc. Pelo caminho perguntou-lhe porque é que ela não estava a trabalhar na empresa do pai, ao que ela respondeu que se sentia feliz por ter conseguido as coisas por ela própria, e sem a ajuda da família.
Foi a vez de ela perguntar: "E tu, porque é que não procuras emprego no estrangeiro?". Resposta dele: "Ah ... não. Não me imagino a viver fora de Portugal e longe da família..."
"Devias-lhe ter dito: És um Deolinda, pá!...", acrescentei eu.
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