Os Estados estão a perder legitimidade? Seria uma grande presunção da minha parte responder genericamente a esta pergunta, pese embora a existência de elementos que apontam nesse sentido. O Estado português, com certeza, tem hoje menos legitimidade do que tinha há 20 anos.
Quando me refiro à legitimidade do Estado, não estou a invocar os aspectos formais do funcionamento da coisa pública. Pelo menos, no Ocidente, todos os governos atuais resultaram dos formalismos políticos adequados. Refiro-me, isso sim, ao reconhecimento, por parte dos governados, da autoridade dos governantes para os liderarem.
Ora, neste capítulo, estamos conversados. A população portuguesa já não reconhece aos governantes qualquer autoridade. Considera-os alienados do Bem Comum, vassalos de interesses particulares, incompetentes e, nalguns casos, corruptos.
Esta falta de legitimidade limita a ação governativa e, em desespero, leva a que cada um trate da sua vidinha. O capital foge, a informalidade cresce, os ajuste de contas banalizam-se, não se investe, não se contrata ninguém, não se confia em ninguém, enfim – é o descalabro social.
Na minha opinião, vai ser muito difícil recuperar a legitimidade perdida. Serão necessários novos líderes e um novo regime político.
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