Como tenho vindo a sublinhar há já algum tempo, a melhor saída para a crise que afecta a Europa periférica é a negociação de reescalonamentos da dívida e, no limite, a negociação de perdões de dívida.
Ora, hoje está a ser noticiado que a Islândia chegou a acordo com a Inglaterra e com a Holanda, a fim de pagar a dívida de 4 mil milhões de euros associada à falência do Banco islandês Icesave. Assim, depois de morosas negociações, o pagamento da dívida foi extendida até ao longíquo ano de 2046, sendo que a Islândia pagará um juro anual de sensivelmente 3%. Ou seja, bem melhor que os termos dos empréstimos negociados pela Grécia e pela Irlanda e que, provavelmente, permitirão à Islândia manter a trajectória ascendente desde que a sua economia bateu no fundo depois de ter implodido há dois anos. De resto, também esta semana, foi divulgada a taxa de crescimento real do PIB islandês no terceiro trimestre de 2010, que evidenciou um crescimento trimestral de 1,2%, ou seja, uma taxa anualizada de quase 5%. Pelo contrário, na Grécia, na Irlanda e, em breve, em Portugal, não há qualquer esperança de que qualquer um destes possa, no curto e médio prazo, sair da recessão.
Enfim, os números do PIB agora divulgados na Islândia confirmam os estudos elaborados por Kenneth Rogoff e Carmen Reinhardt em "This time is different", que eu tenho citado com frequência nas minhas intervenções na imprensa. Assim, o que Rogoff e Reinhardt nos dizem, para além da inevitabilidade do "default" e dos seus méritos a prazo, é o seguinte: que após o colapso (definido como o momento "t"), sucede-se, em média, um crescimento anual real de 2,1% entre os anos t+1 e t+3 (página 132, tabela 9.1), lançando as bases para novos períodos de prosperidade mais à frente. Mais, aquela taxa de 2,1% - taxa real - não é fruto do acaso, aliás, é estatisticamente significativa ao nível de 1% (por outras palavras, em 100 eventos semelhantes ocorre em 99). Em suma, dada a teoria, os números da Islândia não surpreendem. Pelo contrário, o que surpreende é a casmurrice e o preconceito daqueles que, afirmando que as reestruturações e perdões de dívida só em África, apenas adiam o inevitável, o razoável e o exigível.
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