A Europa, nomeadamente o conjunto de países da zona euro, está a evidenciar sinais de grande desorientação. Nos últimos dias, a coisa assumiu até contornos, de certom modo, ridículos, com a Alemanha, a Espanha e, pasme-se, até Portugal (até onde irá a nossa grandiosa lata?!?), a pressionarem a Irlanda a accionar o EFSF/FMI, estando aquela a resistir ferozmente à pressão.
Já aqui escrevi e repito: 1) a Irlanda, ao contrários dos outros três países mencionados antes, não tem historial de incumprimento na sua dívida soberana, por isso, é natural que tente aguentar até ao limite; 2) a Irlanda não tem necessidades de financiamento até Junho do próximo ano, ao contrário de Portugal, por isso, pode aguardar; e 3) a Irlanda não tem um problema económico, tem, sim, um problema financeiro, em particular no que ao antigo maior banco privado diz respeito. Em suma, é natural que os irlandeses não se queiram subjugar à perda de soberania que a adesão ao EFSF/FMI representa. Pelo contrário, Portugal, mais uma vez, está a tentar escapar entre os pingos da chuva. Ou seja, ao pressionar Dublin na esperança de que uma vez estancado aquele problema possamos, nós, ir de novo, tranquilamente, ao mercado, endividarmo-nos mais barato a partir de Janeiro, estamos, outra vez, a fugir com o rabo à seringa. Se os nossos políticos, que andam entretidos com este joguinho, pensam que, com isto, estão a fazer um serviço à Nação, desenganem-se. Portugal só se safa quando largarmos essa droga chamada crédito, coisa que, com estes mesmos políticos, não será fácil de conseguir.
No meio de tudo isto, com ou sem EFSF/FMI, mais cedo ou mais tarde, estou convencido que não existirá alternativa à negociação de perdões de dívida para os países mais aflitos - Portugal incluído. De resto, as yields da Alemanha - isso mesmo, da Alemanha - estão hoje em forte alta, o que faz questionar se até mesmo os alemães terão capacidade para resgatar a zona euro se o recurso ao EFSF/FMI se generalizar. Começo a pensar que não, reforçando a minha ideia anterior de que os perdões de dívida - não apenas para aquela emitida depois de 2013, mas sim para toda a bola de neve que vem de trás - serão a única forma de, no curto prazo, salvar o euro, se tudo isto, por acaso, se desmanchar. Em suma, mais importante do que estar a olhar para a Irlanda, Portugal ou, até mesmo, para a Espanha, é estar a olhar para a Alemanha e para o próprio euro/usd.
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