Novo dia e mais do mesmo: às 10h20 da manhã, o meu terminal Bloomberg piscava 7,23% nos juros da dívida pública portuguesa. O prémio de risco face à dívida alemã já vai em quase 5 pontos percentuais...
Entretanto, leio na imprensa as reacções dos responsáveis do Instituto de Gestão do Crédito Público, garantindo que o leilão de ontem foi um sucesso. Afinal, diz Alberto Soares, o Presidente do IGCP, foram os bancos estrangeiros - e não os portugueses - que ficaram com mais de 70% da emissão. O Diário Económico cita ainda a Cristina Casalinho, economista chefe do BPI, cuja opinião eu muito estimo, em que aquela afirma que "quando o preço chega a estes níveis, aproximamo-nos da taxa de indiferença, mas no caso da Grécia, por exemplo, o problema não foi o preço, foi a desertificação dos leilões". Por outras, enquanto houver procura, sobretudo se for proveniente do estrangeiro, não será dramático.
Infelizmente, eu tenho uma opinião diferente. O nosso drama é, precisamente, o facto de continuar a existir procura a estes preços. Por uma simples razão: os riscos associados à espiral de juros são neste momento superiores aos riscos associados à dieta orçamental prevista. Mais, comparar o momento que vivemos hoje em Portugal com aquele que vivia a Grécia na altura em que também atingiu os 7% não faz sentido. Porque, ao contrário de então, hoje, os investidores sabem que existe um plano B - o fundo europeu (EFSF) -, coisa que não existia em Maio, e sabem também que existe grande resistência dentro da UE à criação de regras - como se vê pelas reiteradas críticas a Angela Merkel - que sirvam de guião à reestruturação de dívida soberana no enquadramento da zona euro. Em suma, há actualmente um incentivo para ir aos leilões e satisfazer a oferta do Estado português - mesmo na presença de juros agiotas que qualquer Estado responsável deveria rejeitar -, pois, em última instância, os contribuintes da zona euro hão-de pagar a conta. Até ao dia em que a Alemanha bater com a porta...
Aproximam-se mudanças radicais.
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