26 novembro 2010

alternativas

Os mercados estão a ser fortemente penalizados por dois factores: 1) a escalada dos juros da Espanha e 2) a iminência de uma guerra entre as Coreias.
Quanto aos juros espanhóis, no espaço de apenas um mês, passaram de 4% a 10 anos para 5,25%. Escrito assim, pode não parecer muito, mas, graficamente, é um movimento exponencial que quebrou a resistência dos 4,80% e com o limiar dos 5% associado ao EFSF/FMI. O HSBC estima que um resgate espanhol poderá custar qualquer coisa como 350 mil milhões de euros, a fim de assegurar as necessidades de financiamento durante os próximos três anos. Ou seja, considerando que a Espanha precisa de 350 mil milhões, Portugal de 50, a Irlanda de 80 e que Grécia já teve direito a 110....tudo somado, são quase 600 mil milhões de euro - bem acima dos 450 do EFSF. E se além disso considerarmos ainda que quase todos os países de nomeada na zona euro (Alemanha incluída) terão de amortizar/refinanciar cerca de 20% da sua dívida bruta ao longo do próximo ano, facilmente, concluiremos que a ideia de aumentar a dimensão do EFSF, na prática, manter as práticas do passado inalteradas, é uma fuga para a frente que, mais cedo ou mais tarde, irá implodir em grande estilo. A crise do "subprime", ao pé do que se avizinha com esta crise de dívida soberana, será uma gota no oceano...
Portanto, na prática, as opções disponíveis para resolver esta alhada são as seguintes.
Alternativa A: Federalismo europeu, que permitisse iniciar a emissão de Eurobonds que, cubrindo os buracos existentes, posteriormente, fossem diluídos através de uma política monetária de "quantitative easing" equivalente à do FED. Mas, enfim, trata-se de uma hipótese que não está sequer em cima da mesa. As diferenças e divisões históricas não permitem sonhar com o conceito de Estados Unidos da Europa. Além disso, a solução desenhada atrás teria como desvantagens a inflação, a redução do poder de compra da zona euro e um reforçado ímpeto da guerra cambial para a qual muitos têm alertado recentemente.
Alternativa B: Fim do euro, nomeadamente através da (auto?) exclusão dos países mais afectados que, uma vez munidos de instrumentos de política monetária, diluiriam a sua dívida nominal. É que, segundo eu entendo, as emissões de dívida de, por exemplo, Portugal são pagas na moeda da República. Por isso, saindo Portugal do euro, a dívida soberana deixaria de ser paga em euros, passando a ser paga em Bentos (utilizando a designação do Pedro Arroja) e evitando, assim, que uma desvalorização cambial resultasse no aumento real da dívida. Inconveniente: o raciocício anterior talvez não se aplique à dívida emitida pela banca portuguesa...
Alternativa C: Negociação de perdões de dívida para os países mais afectados. Esta é a minha solução preferida e aquela que tenho vindo a sugerir em posts, artigos e intervenções recentes. É aquela que, verdadeiramente, é solidária, ou seja, em que devedores e credores, ambos, sofrem as consequências associadas a anos de desmazelo na contracção e na gestão do risco. E é aquela que não implica a implosão de nenhum país afectado, nem a implosão da própria zona euro. É, também, a única que, em última instância, não conduzirá a fenómenos de inflação excessiva nem a perdas dramáticas no poder real de compra (muito importante em face da demografia europeia, que está envelhecida); pelo contrário, deflacionará a economia europeia, representando a necessária ressaca depois de bebedeira creditícia da última década.
Portanto, venham e escolham. Como disse, eu voto na alternativa C.
Por fim, "last but not least", a Guerra entre as Coreias. Raios, não vem mesmo nada a calhar!

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