A taxa de cupão das Obrigações do Tesouro portuguesas a 10 anos - vulgo, "juros da dívida" - atingiu hoje novo máximo da era euro (às 16h30 estavam a 6,39%), ultrapassando o anterior fecho máximo de 6,29% registado em Maio deste ano. A Irlanda acompanhou-nos neste movimento e também registou novo máximo face aos valores registados na Primavera. Pelo contrário, a Grécia e a Espanha mantiveram-se abaixo das leituras de Maio e Junho, respectivamente, sendo que no caso espanhol a performance recente das suas obrigações no mercado secundário tem sido particularmente convincente. Por fim, a Alemanha permanece como mercado de refúgio, pois as taxas de cupão associadas à sua dívida continuam a ser as mais baixas da zona euro, tendo, inclusivamente, baixado face aos valores atingidos há meses. E, como veremos de seguida, há um aspecto, no comportamente recente da dívida alemã, que deve ser tido em conta...
Começando pela dívida dos países da periferia europeia - Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda -, as atenções estão agora focadas sobre dois países: Irlanda e Portugal. No caso irlandês, a crise persiste devido a uma questão conjuntural: o buraco financeiro do seu sector bancário, que é maior do que aquilo que o governo irlandês havia antecipado. De momento a pressão é grande e as suas obrigações a dez anos estão a transaccionar a 86 cêntimos do par, ou seja, estão a descontar a possibilidade de uma reestruturação (e perdão) dessa dívida até 14% do seu valor. No caso português, o problema é de cariz mais estrutural, pois diz respeito à ausência de medidas que ataquem o défice, nomeadamente a despesa pública que, neste grupo de países, é a única que continua a aumentar. Assim, as obrigações portuguesas a dez anos estão a transaccionar no mercado secundário a 89 cêntimos do par, indicando igualmente a necessidade de um perdão de dívida, até 11% do seu valor. A título de curiosidade, os 10 anos da Grécia transaccionam a 70 cêntimos e em Espanha transaccionam acima do par, no que é o mais importante desenvolvimento a curto prazo desta crise das contas públicas na Europa.
Por fim, a Alemanha. Na Primavera, os juros associados às obrigações do Tesouro alemãs foram caindo à medida que a crise se intensificava, tendo atingido o mínimo de 2,5% assim que desanuviou a percepção negativa acerca da situação particular de Espanha. Durante o Verão, com altos e baixos, mantiveram o ritmo de queda, mais moderado, registando um mínimo anual de 2,1% no final de Agosto. Porém, neste momento, apesar do agravamento da situação em Portugal e na Irlanda, os juros cobrados à Alemanha também estão em alta, tendo hoje atingido os 2,4%. Que quererá dizer isto? Quer dizer que, provavelmente, Berlim, não obstante toda a retórica de Merkel em sentido contrário, vai mesmo safar a Europa periférica e evitar o colapso financeiro dos pequenos países da zona euro.
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