12 agosto 2010

pressupostos irracionais

Seremos donos de nós próprios (self-ownership)? Rothbard afirma que sim, eu afirmo que não.
Rothbard radica o princípio da auto-propriedade (tradução um bocado foleira) no direito natural e afirma que a auto-propriedade é o que é “naturalmente melhor para cada homem”. É uma intuição moral compreensível até pelas crianças e pelos primitivos, é uma proposição lógico-praxelógica e, por fim, um axioma demonstrável por redução ao absurdo (penso que estou a citar correctamente o pensamento do Mestre).
Eu desconfio sempre de conceitos tão intuitivos e simples que até uma criança compreende, mas não será por aí que o gato vai às filhoses. O conceito de auto-propriedade é falso porque nós não nos criamos a nós próprios, não somos fruto das nossas acções, nem somos alienáveis como qualquer outra propriedade. Penso que esta afirmação é de uma lógica inabalável. Nós, os seres humanos, não temos as características identitárias de uma propriedade.
Como é que então Rothbard constrói o seu argumento? Questionando-nos sobre as alternativas. Quem é então dono de nós? O colectivo, utópico. Grupos sociais, injusto. A única premissa válida seria então cada um ser auto-propietário.
Contesto esta conclusão. Se os seres humanos não têm as características de uma propriedade, é absurdo interrogarmo-nos sobre as alternativas aos titulares da propriedade/ser humano. Por fim, ao concluir o seu argumento, Rothbard expande o conceito de propriedade de modo a descaracterizá-lo.
Se designarmos por A a "propriedade ser humano", com as suas características de inalienabilidade e por B as restantes propriedades, com as suas características de alienabilidade e transacção, é evidente que sendo A diferente de B, a identidade "PROPRIEDADE" não pode corresponde a A e a B em simultâneo. Seria irracional.
Uma ética construída sobre axiomas irracionais constituí uma Mal. Sendo os seres humanos entes racionais, que dependem da razão para a sua sobrevivência, a razão é a maior virtude e a irracionalidade um Mal Absoluto. Em sentido Randiano, posso portanto concluir que o anarco-capitalismo Rothbardiano, como filosofia, representa um Mal.
O direito reclamado por Rothbard dos pais deixarem os filhos morrer à fome é uma consequência absolutamente lógica de pressupostos irracionais. Uma consequência Maligna de uma filosofia Maligna.
A abolição do Estado e o fim do monopólio público da repressão da violência é outra proposta absolutamente lógica, saída de uma “ética falida”. A guerra civil e as lutas de gangs rivais poriam fim à liberdade de todos (Rand, Nozick). Um Mal e uma perversidade dos propósitos iniciais (que assumo serem escrupulosamente honestos, atenção).

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