Segundo estas declarações, o presidente-candidato Aníbal Cavaco Silva não teme a «instabilidade» política, porque está convicto que o «bom senso das forças políticas» levará à aprovação do orçamento de estado e à continuação do governo em funções. Mesmo que o orçamento não preste, o governo governe mal, a crise permaneça e o país continue a afundar-se. Nada disso interessa perante o alto valor da «estabilidade», que, de resto, Cavaco trouxe há muitos anos para a política nacional, quando era primeiro-ministro («deixem-me governar! Deixem-me governar!»). No léxico de Cavaco, instabilidade política é, portanto, sinónimo de demissão de um governo em funções.
Infelizmente, a vida de um governo nos regimes democráticos não é apenas ameaçada pela insensatez da oposição nas votações orçamentais. Ele há momentos muito mais perigosos e arriscados, como, por exemplo, quando um pobre governo e todo o seu dedicado pessoal cessam funções ao fim de quatro anos de mandato, e – horror! – se têm de submeter ao sufrágio popular. Já imaginaram os riscos que um governo assim pode correr? E a instabilidade que resultará da sua eventual substituição? Cavaco Silva tem de fazer alguma coisa sobre isto, e as hipóteses não são muitas: suspender por tempo indeterminado as eleições?; entronizar José Sócrates como primeiro-ministro vitalício?; pedir aos partidos da oposição que não cometam a insensatez de se candidatarem? A bem da estabilidade e da Nação, Cavaco precisa de agir!
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