03 junho 2010

teorias da mudança

Como Levin demonstra, Paine acreditava que as sociedades existem num "eterno presente". O facto de uma coisa ter existido durante séculos nada nos diz sobre o seu valor. O passado está morto e os vivos devem servir--se do seu poder de análise para descartar posturas existentes sempre que necessário e recomeçar o mundo do zero. Ele chegou mesmo a sugerir que as leis expirassem ao fim de 30 anos para que cada nova geração pudesse começar tudo de novo.

Paine viu nas revoluções francesa e americana modelos para este tipo de mudança radical. Em cada um dos países, pensava, os revolucionários tinham deduzido determinadas verdades universais acerca dos direitos do homem e conceberam depois uma nova sociedade à medida desses direitos.

Burke, representante do iluminismo britânico, tinha uma visão diferente da mudança. Acreditava que cada geração é um pequeno elo de uma longa cadeira da história; somos depositários do saber dos tempos e cumpre-nos transmiti-lo, um pouco melhorado, aos nossos descendentes. Esse saber preenche as falhas da nossa própria razão, já que as instituições seculares contêm, implicitamente, mais saber do que qualquer indivíduo pode, por si só, ter.

A ideia de que os indivíduos pudessem usar a razão abstracta para descartar posturas que tinham aguentado o teste do tempo horrorizava Burke, que acreditava na reforma contínua. Ora reforma não é novidade. Não se tenta mudar os fundamentos de uma instituição; deve tentar-se modificá-la a partir de dentro, conservando-lhe as partes boas e adaptando as que já não funcionam.

Tentar reestruturar a sociedade com base em planos abstractos, defendia Burke, acaba por provocar novas dificuldades de toda a ordem, porque o organismo social é mais complicado do que se imagina. Não seria possível acertar se o ponto de partida fosse o zero. 



Via ionline

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