De acordo com o Diário Económico, o Estado acaba de vetar a venda da Vivo à Telefónica, através da sua "Golden Share", apesar do voto favorável (à venda da Vivo) de 74% dos accionistas que puderam votar na Assembleia Geral de hoje (apenas 62% do total, sendo que a Telefónica, com 8% do capital da PT, foi inibida de participar na votação). Pelo contrário, os accionistas que votaram contra o negócio foram essencialmente aqueles que constituem o chamado "núcleo duro nacional" que, por sua vez, na generalidade dos casos, obtêm na PT importantes rendas na forma de diversos contratos de fornecimento e prestação de bens e serviços. Ou seja, o Estado que, salvo erro, tem uma participação directa no capital da PT inferior a 1%, em conluio com outra meia dúzia de accionistas nacionais, bloqueou um negócio que, afinal, era do agrado de 52% do universo global de accionistas (os 74% do universo de 62% do capital, que votaram favoravelmente, mais a Telefónica que fez a oferta).
A situação demonstra que, hoje, ao contrário de ontem, foi Portugal que marcou em fora de jogo. À margem da lei, como a União Europeia, que há muito revogou o direito dos governos nacionais às Golden Shares, irá em breve concluir. Quanto à ideia de uma OPA da Telefónica sobre a PT, penso que tal cenário não se colocará. Mesmo que surgisse, acredito, não teria grande sucesso. É que é bom de ver que o núcleo duro português e o Estado precisam da PT, não na óptica de accionistas, mas numa perspectiva de clientelismo. É uma panelinha que não interessa desmanchar. E o resto é conversa. Enfim, como sempre parece suceder em Portugal, quem perde é o pequeno accionista. Com aqueles 7,15 mil milhões de euros - do que li desta novela - teria sido possível montar uma estrutura semelhante à Vivo em qualquer parte do mundo, incluindo no Brasil. Sem sócios desavindos. Pelo contrário, tendo em conta a paz podre, agora formalmente instalada na Vivo, é provável que tenhamos uma reedição das lutas internas que, nos últimos anos, caracterizaram a vida do BCP. Quem ganha? Além do "núcleo duro" e da troupe de ex-PS's e ex-PSD's - que assim se eternizam no rol de pagamentos da PT -, só vejo mais um vencedor: a Telmex de Carlos Slim.
Ps: Ainda não consegui apurar como votou o fundo norte-americano Brandes, até aqui alinhado com mister Zeinal, mas que, ao que parece, era tido como independente e sem conflitos de interesses comuns aos demais. Estou com curiosidade para ver se também o Brandes votou a favor do negócio...
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