As medidas anunciadas ontem à noite pela União Europeia são impressionantes e, na minha opinião, revelar-se-ão eficazes na eliminação do risco de contágio grego ao resto da Europa. Portugal pode agora dormir descansado porque a redução de despesa que inevitavelmente teria de ser implementada, a fim de reduzir o nosso endividamento externo, já não terá lugar. Contudo, não há bela sem senão, e estas medidas também têm os seus custos. Primeiro, no caso específico de Portugal, a paródia do nosso sistema político-partidário vai continuar e todas as características actuais da nossa economia (o centralismo, a iniquidade, o despesismo público e o clientelismo) vão manter-se, quiçá, agravar-se até se passar à próxima fase de integração europeia, que é o federalismo e a perda de soberania nacional. Segundo, em termos mais gerais, as decisões de ontem põem em causa a independência do Banco Central Europeu, pois, ao permitirem que este compre directamente a dívida soberana dos países mais indisciplinados, contribuirão para pressões inflacionistas lá mais para a frente. Porém, qualquer uma destas duas consequências são subsidiárias em relação ao que ontem se anunciou.
A Europa passou neste primeiro teste, contudo, enquanto não se passar ao federalismo europeu, a alquimia ou magia financeira associada a este Fundo Monetário Europeu será frágil. É que bastará a renúncia de um país importante - por exemplo, a Alemanha, onde a opinião pública já percebeu a inépcia económica da senhora Merkel - para que tudo possa colapsar que nem um castelo de cartas. Sem esquecer, também, as divisões que possam surgir no seio do Fundo Monetário Internacional, que também participará neste fundo europeu, e que, mais uma vez, colocará os Estados Unidos a pagar parte da reconstrução - desta feita, financeira - da Europa...
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