Há quase vinte e cinco anos, Aníbal Cavaco Silva, acabado de vencer as suas primeiras eleições, deu uma entrevista à revista do Expresso, onde, entre outras coisas, anunciou que era um keynesiano, que acreditava na intervenção do estado na economia e na sociedade, e que estava muito feliz por estar já a constatar uma considerável subida do sector dos serviços, em detrimento dos outros da economia tradicional portuguesa, que ele considerava ainda subdesenvolvida e rudimentar. Depois disso, nos seus quase dez anos de governo, Cavaco privatizou parte da economia que fora estatizada no PREC, mas o estado não parou de crescer em número de funcionários e na sua presença na sociedade.
Foi a partir deste momento, com Cavaco Silva e a sua primeira maioria absoluta, que se definiu o modelo social português da III República. Esse modelo foi - é - intervencionista e estatista, tendo permitido o continuado crescimento do estado em número de servidores e de clientes, de serviços e de funções. Com António Guterres, que lhe sucedeu, manteve-se e ampliou-se o sistema, desde a «paixão pela educação» ao «rendimento mínimo garantido». Durão Barroso nada fez para o reformar e José Sócrates, um assumido defensor do Estado Social, cumpriu o que prometeu. Infelizmente.
Hoje, o que está a rebentar por essa Europa fora, e em Portugal também, com gravidade especial nos países submetidos a governos socialistas nos últimos anos, é o Estado Social. Curiosamente, todos falam da “crise”, mas poucos parecem interessados em fazer-lhe o diagnóstico rigoroso. O que está em falência é o modelo intervencionista de presença do estado em todos os sectores da sociedade, sustentado por um lógica redistributiva de rendimentos, cargas fiscais elevadas, proteccionismo legislativo e domínio das corporações sobre o mercado. É bom termos isto presente, antes que apareça por aí alguém a dizer que esta é masi uma crise do capitalismo.
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