22 abril 2010

Pobre e mal agradecida


Há na crise grega um aspecto que me parece extraordinário: trate-se do autismo com que uma boa parte da sua população está a conviver com a crise. Assim, no mesmo dia em que a taxa de juro exigida pelos credores internacionais à Grécia na sua dívida de longo prazo superou os 8%, inicia-se nova greve em vários sectores ligados à sua função pública para protestar contra as medidas de austeridade e, em particular, contra a provável intervenção do FMI nas suas contas públicas.

Enfim, é por estas e por outras outras que em Berlim muitos, incluindo o Presidente do Bundesbank, estejam, discretamente, a congeminar uma forma de travar o plano de apoio à Grécia. Com franqueza, eu não os censuro...embora continue a acreditar que a integração política da zona euro seja o caminho com mais vantagens para todos. A verdade, porém, é que a atitude dos gregos revela uma dimensão de "pobre e mal agradecido", que, naturalmente, cai mal junto dos que estão dispostos a contribuir para uma solução.

Por outro lado, a situação do Primeiro Ministro grego também começa a ser demasiado frágil, a fim de sustentar as medidas draconias que, inevitavelmente, será forçado a tomar e que, bem vistas as coisas, serão mais ténues no cenário de empréstimo e intervenção conjunta da União Europeia e do FMI. Pelo contrário, no cenário de bancarrota, sem qualquer rede de apoio, os ajustamentos atingirão uma crise de tal forma grave, que, porventura, irá muito além das expectativas mais pessimistas que já se sentem na Grécia. Mesmo que os gregos pensem que não.

No entanto, é para este cenário mais agreste que as coisas se encaminham. A Grécia perdeu o controlo sobre si própria e agora serão os gregos da rua a exigir aos seus próprios governantes, voluntariamente ou não, a saída do euro. Enfim, aquele barco está a afundar. Deixai-o ir.

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