29 abril 2010

o paradoxo do contraditório

O Fernando Moreira de Sá, uma alma cada vez mais sensível aos excessos da direita (onde calculo que me inclui) e aos dislates da esquerda (onde espero que nunca se venha a incluir), enunciou, aqui, um novo paradoxo político. Eu chamar-lhe-ia, para enfatizar, «o paradoxo do contraditório». Os termos da descoberta são admiráveis e são os que se seguem.

O primeiro postulado do raciocínio consiste em reconhecer, como diz o Fernando, que «o nosso país está a caminho do desastre», tal e qual «o Titanic» (a imagem é forte e adequada). O segundo postulado determina que os governantes actuais – de quem nada se pode esperar para salvar a pátria, segundo o Fernando – são os principais responsáveis pela situação. O terceiro é que, apesar de péssimos, os actuais governantes não podem por enquanto ser substituídos, nem o país ir a votos. «Seria o descalabro», avisa-nos prudentemente o Fernando: é necessário aguardar que a «tempestade amaine», o mesmo quer dizer, que a crise abrande e o país melhore, para, «mais tarde» se atacar e substituir o governo.

A beleza do paradoxo, como todos por esta altura já compreenderam, está em presumir que quem conduziu o país ao «desastre» possa ser quem consiga ultrapassar esse mesmo desastre. É uma contradição para a qual não consigo explicação. Mas os paradoxos são assim mesmo.

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