A propósito deste post, aqui vai a minha opinião acerca do mesmo assunto, que publiquei no jornal "Vida Económica" na edição do passado dia 12 de Março sob o título "Integração Europeia".
"As peripécias recentes, vividas pela Grécia e por outros países como Portugal, nos mercados de dívida pública e, também, nos “Credit Default Swaps” (CDS), estão a forçar os políticos a debater o futuro da União Europeia, nomeadamente o seu futuro político. Trata-se de um debate difícil, como a gestão da crise grega tem evidenciado. De um lado estão aqueles países que, no curto prazo, mais ganhariam com maior integração política na Europa. É o caso da Grécia e, também, de Portugal. Do outro lado, está aquele que, no imediato, mais perderia com os custos dessa mesma integração: a Alemanha.
O problema que agora se vive no seio da Europa é um problema, essencialmente, económico. Entre os anos 2000 e 2007, os custos unitários do trabalho na Alemanha mantiveram-se estagnados – na verdade, até diminuíram residualmente no acumulado do período. Pelo contrário, no mesmo período, os custos unitários do trabalho nos restantes países da zona euro aumentaram cerca de 11%. A fonte é a OCDE. E no caso dos países, agora, mais afectados pela crise orçamental – Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha – em todos, sem excepção, esses mesmos custos unitários do trabalho aumentaram mais do que na média da zona euro. A situação mais flagrante foi a Irlanda que, no espaço de oito anos, em face do aumento dos custos laborais, viu a sua competitividade reduzida em mais de 25%. No que diz respeito a Portugal, essa perda de competitividade foi de 17%. Ou seja, comparando com a Alemanha, muitos países que em 2000, provavelmente, já não eram competitivos contra os alemães agravaram ainda mais os seus termos de troca desde então.
A principal consequência desta quebra de competitividade entre países que partilham a mesma moeda, e entre os quais cada país conduz uma parte significativa do seu comércio externo – em Portugal, por exemplo, mais de 50% das nossas importações e exportações são conduzidas dentro da zona euro –, foi a ascensão meteórica da Alemanha enquanto principal potentado económico da Europa. Já o era e ficou a sê-lo ainda muito mais. A prova desse domínio avassalador é a diferença entre o saldo da balança comercial alemã, cerca de 140 mil milhões de euros – de acordo com a última edição da “Economist” – e o saldo apresentado pelo país que segue em segundo lugar nesta classificação, a Holanda, cerca de 35 mil milhões. É claro que a diferença entre Alemanha e Holanda, se colocada em perspectiva, ou seja, face ao respectivo PIB, se atenua, mas mesmo assim, a Alemanha mantém a liderança. Pelo contrário, Portugal regista um défice comercial próximo dos 10% do PIB, na Grécia há um défice de 18% (talvez mais, porque, entretanto, se soube que as contas foram aldrabadas) e na Irlanda só não há défice comercial porque lá estão muitas delegações europeias de multinacionais norte-americanas.
Em suma, se vingar uma atitude paternalista, a Europa avançará no sentido de maior integração política e os riscos de incumprimento em países como Portugal e Grécia serão, na prática, eliminados. Se, pelo contrário, a integração política não se concretizar e não passarmos do que já foi feito, então, estas crises, como a de agora, serão cíclicas. Lendo a imprensa internacional, é curioso observar quão extremadas estão algumas posições editoriais. A revista “Economist” está muito céptica quanto à possibilidade de uma maior coesão política. Pelo contrário, a revista “Newsweek” está muito convencida de que se trata do cenário mais provável. Nesta discussão, eu estou mais do lado da “Newsweek” pela simples razão de que a Alemanha, se conseguir disciplinar os ímpetos despesistas dos países que tomar sob sua custódia, tem muito mais a ganhar do que a perder. Dada a sua posição dominante no comércio intra europeu, e tendo perdido a liderança mundial para a China, a Alemanha precisa de um mercado europeu integrado e aberto para cimentar a sua liderança enquanto potência económica e, a prazo, também, enquanto potência política. Aliás, bem vistas as coisas, os alemães, através do euro, estão a conseguir atingir aquilo que, no passado, não atingiram pela via militar. E, portanto, do seu ponto de vista, não será inteligente mudar de estratégia. Podem até perder uma batalha, mas estão a ganhar a guerra."
O problema que agora se vive no seio da Europa é um problema, essencialmente, económico. Entre os anos 2000 e 2007, os custos unitários do trabalho na Alemanha mantiveram-se estagnados – na verdade, até diminuíram residualmente no acumulado do período. Pelo contrário, no mesmo período, os custos unitários do trabalho nos restantes países da zona euro aumentaram cerca de 11%. A fonte é a OCDE. E no caso dos países, agora, mais afectados pela crise orçamental – Portugal, Grécia, Irlanda e Espanha – em todos, sem excepção, esses mesmos custos unitários do trabalho aumentaram mais do que na média da zona euro. A situação mais flagrante foi a Irlanda que, no espaço de oito anos, em face do aumento dos custos laborais, viu a sua competitividade reduzida em mais de 25%. No que diz respeito a Portugal, essa perda de competitividade foi de 17%. Ou seja, comparando com a Alemanha, muitos países que em 2000, provavelmente, já não eram competitivos contra os alemães agravaram ainda mais os seus termos de troca desde então.
A principal consequência desta quebra de competitividade entre países que partilham a mesma moeda, e entre os quais cada país conduz uma parte significativa do seu comércio externo – em Portugal, por exemplo, mais de 50% das nossas importações e exportações são conduzidas dentro da zona euro –, foi a ascensão meteórica da Alemanha enquanto principal potentado económico da Europa. Já o era e ficou a sê-lo ainda muito mais. A prova desse domínio avassalador é a diferença entre o saldo da balança comercial alemã, cerca de 140 mil milhões de euros – de acordo com a última edição da “Economist” – e o saldo apresentado pelo país que segue em segundo lugar nesta classificação, a Holanda, cerca de 35 mil milhões. É claro que a diferença entre Alemanha e Holanda, se colocada em perspectiva, ou seja, face ao respectivo PIB, se atenua, mas mesmo assim, a Alemanha mantém a liderança. Pelo contrário, Portugal regista um défice comercial próximo dos 10% do PIB, na Grécia há um défice de 18% (talvez mais, porque, entretanto, se soube que as contas foram aldrabadas) e na Irlanda só não há défice comercial porque lá estão muitas delegações europeias de multinacionais norte-americanas.
Em suma, se vingar uma atitude paternalista, a Europa avançará no sentido de maior integração política e os riscos de incumprimento em países como Portugal e Grécia serão, na prática, eliminados. Se, pelo contrário, a integração política não se concretizar e não passarmos do que já foi feito, então, estas crises, como a de agora, serão cíclicas. Lendo a imprensa internacional, é curioso observar quão extremadas estão algumas posições editoriais. A revista “Economist” está muito céptica quanto à possibilidade de uma maior coesão política. Pelo contrário, a revista “Newsweek” está muito convencida de que se trata do cenário mais provável. Nesta discussão, eu estou mais do lado da “Newsweek” pela simples razão de que a Alemanha, se conseguir disciplinar os ímpetos despesistas dos países que tomar sob sua custódia, tem muito mais a ganhar do que a perder. Dada a sua posição dominante no comércio intra europeu, e tendo perdido a liderança mundial para a China, a Alemanha precisa de um mercado europeu integrado e aberto para cimentar a sua liderança enquanto potência económica e, a prazo, também, enquanto potência política. Aliás, bem vistas as coisas, os alemães, através do euro, estão a conseguir atingir aquilo que, no passado, não atingiram pela via militar. E, portanto, do seu ponto de vista, não será inteligente mudar de estratégia. Podem até perder uma batalha, mas estão a ganhar a guerra."
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