Um mercado está em equilíbrio quando a oferta iguala a procura. O preço que faz igualar a oferta à procura é chamado o preço de equilíbrio e o volume de transacções a esse preço chama-se a quantidade de equilíbrio. O equilíbrio refere-se agora a um colectivo, à massa dos compradores e dos vendedores (actuais ou potenciais) de um certo bem, e portanto, a toda a sociedade. Esta é uma concepção abstracta de equilíbrio, que se refere a uma massa anónima de pessoas, e não a uma pessoa qualquer em particular.
Já se vê que, na concepção protestante (ou moderna ou dos economistas), a sociedade, através dos seus multiplos mercados, pode estar em equilíbrio, e ao mesmo tempo as pessoas estarem muito desequilibradas. Na realidade, todos os dias desde que dura a crise financeira, todos os mercados (de trabalho, de bens e serviços, financeiros, etc.) fecham em equilíbrio, mas o que não falta são pessoas desequilibradas - como o Joaquim exemplifica aqui -, ou porque perderam o emprego, ou porque têm dívidas que não conseguem pagar. Esta concepção de equilíbrio não é apenas abstracta, é também exclusiva. Quem não tiver dinheiro para comprar os bens ao preço do mercado, e quem não conseguir produzi-los a um custo unitário inferior ou igual ao preço do mercado, fica excluído e não conta.
Como é que se passou da ideia católica de equilíbrio, que é uma ideia pessoalizada e concreta (você pode fazer isto, aquilo e aqueloutro, desde que seja dentro dos limites x, y, e z), e uma ideia inclusiva (todos os homens podem chegar ao equilíbrio), para a ideia moderna ou protestante de equilíbrio, que é impessoal e abstracta, e também exclusiva?
Para responder, remeto em primeiro lugar para o meu post anterior. O diálogo que aí figurei é claramente um diálogo entre um jovem adolescente e um homem maduro ( ou mulher), em que o homem está a indicar ao jovem o caminho do equilíbrio. E o que ele diz ao rapaz é sabedoria resultante da sua própria experiência de vida: "Olha, se te emborrachares todos os dias ninguém te vai tomar a sério e vais ficar doente; se matares alguém que não seja em legítima defesa, estás feito para o resto da tua vida; se fumares 5 maços por dia, não duras muito; se decidires ser um revolucionário permanente, tens todas as chances de acabar como o Che Guevara; etc.". Quem está a falar ao jovem é um homem munido de autoridade, e de uma autoridade que é baseada na experiência.
Provavelmente é o próprio pai do jovem ou o professor. Mas qualquer um destes homens só tem uma vida. Existe, porém, uma instituição que já conheceu muitas vidas, já anda há mais de dois mil anos a observar o homem e a reflectir sobre ele. É a Igreja Católica. Não existe manancial de experiência humana acumulado em algum lugar, pessoa ou instituição como na tradição da Igreja. Daí a sua autoridade - é uma autoridade baseada na experiência.
É a autoridade, baseada na experiência, que define e indica o equilíbrio, e esta autoridade tem uma mão visível - a do pai, do professor, em última instância, de Deus, através do Papa e da Igreja. O protestantismo não podia aceitar isto, e então o que fez? Substituíu a mão visível da autoridade pessoalizada (pai, professor, Papa), pela mão invisível de um processo impessoal - um processo onde participam milhões de pessoas mas em que ninguém é capaz de determinar o resultado final -, que é o processo do mercado, e declarou que o resultado final era o equilíbrio. A colectividade, que não tem mão, substituiu-se à mão do pai, do professor ou do Papa para indicar onde está o equilíbrio. É a mão invisível do Adam Smith. Escusado seria acrescentar que a autoridade do Estado moderno advém de um processo igualmente impessoal - a democracia praticada à escala da nação.
Mas obviamente que o equilíbrio protestante não é senão uma abstracção, talvez interessante para os intelectuais e os economistas, mas que não interessa nada para a vida de cada homem concreto. Para ver que assim é, basta só ir dizer a um homem que recentemente perdeu o emprego e não consegue sustentar a família, que no país está tudo bem, porque ainda hoje, como acontece todos os dias, todos os mercados fecharam em equilíbrio.
Já se vê que, na concepção protestante (ou moderna ou dos economistas), a sociedade, através dos seus multiplos mercados, pode estar em equilíbrio, e ao mesmo tempo as pessoas estarem muito desequilibradas. Na realidade, todos os dias desde que dura a crise financeira, todos os mercados (de trabalho, de bens e serviços, financeiros, etc.) fecham em equilíbrio, mas o que não falta são pessoas desequilibradas - como o Joaquim exemplifica aqui -, ou porque perderam o emprego, ou porque têm dívidas que não conseguem pagar. Esta concepção de equilíbrio não é apenas abstracta, é também exclusiva. Quem não tiver dinheiro para comprar os bens ao preço do mercado, e quem não conseguir produzi-los a um custo unitário inferior ou igual ao preço do mercado, fica excluído e não conta.
Como é que se passou da ideia católica de equilíbrio, que é uma ideia pessoalizada e concreta (você pode fazer isto, aquilo e aqueloutro, desde que seja dentro dos limites x, y, e z), e uma ideia inclusiva (todos os homens podem chegar ao equilíbrio), para a ideia moderna ou protestante de equilíbrio, que é impessoal e abstracta, e também exclusiva?
Para responder, remeto em primeiro lugar para o meu post anterior. O diálogo que aí figurei é claramente um diálogo entre um jovem adolescente e um homem maduro ( ou mulher), em que o homem está a indicar ao jovem o caminho do equilíbrio. E o que ele diz ao rapaz é sabedoria resultante da sua própria experiência de vida: "Olha, se te emborrachares todos os dias ninguém te vai tomar a sério e vais ficar doente; se matares alguém que não seja em legítima defesa, estás feito para o resto da tua vida; se fumares 5 maços por dia, não duras muito; se decidires ser um revolucionário permanente, tens todas as chances de acabar como o Che Guevara; etc.". Quem está a falar ao jovem é um homem munido de autoridade, e de uma autoridade que é baseada na experiência.
Provavelmente é o próprio pai do jovem ou o professor. Mas qualquer um destes homens só tem uma vida. Existe, porém, uma instituição que já conheceu muitas vidas, já anda há mais de dois mil anos a observar o homem e a reflectir sobre ele. É a Igreja Católica. Não existe manancial de experiência humana acumulado em algum lugar, pessoa ou instituição como na tradição da Igreja. Daí a sua autoridade - é uma autoridade baseada na experiência.
É a autoridade, baseada na experiência, que define e indica o equilíbrio, e esta autoridade tem uma mão visível - a do pai, do professor, em última instância, de Deus, através do Papa e da Igreja. O protestantismo não podia aceitar isto, e então o que fez? Substituíu a mão visível da autoridade pessoalizada (pai, professor, Papa), pela mão invisível de um processo impessoal - um processo onde participam milhões de pessoas mas em que ninguém é capaz de determinar o resultado final -, que é o processo do mercado, e declarou que o resultado final era o equilíbrio. A colectividade, que não tem mão, substituiu-se à mão do pai, do professor ou do Papa para indicar onde está o equilíbrio. É a mão invisível do Adam Smith. Escusado seria acrescentar que a autoridade do Estado moderno advém de um processo igualmente impessoal - a democracia praticada à escala da nação.
Mas obviamente que o equilíbrio protestante não é senão uma abstracção, talvez interessante para os intelectuais e os economistas, mas que não interessa nada para a vida de cada homem concreto. Para ver que assim é, basta só ir dizer a um homem que recentemente perdeu o emprego e não consegue sustentar a família, que no país está tudo bem, porque ainda hoje, como acontece todos os dias, todos os mercados fecharam em equilíbrio.
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