28 março 2010

Imprensa escrita


De acordo com notícias publicadas esta semana, o jornal "i" foi colocado à venda pelo seu proprietário, o Grupo Lena. Aparentemente, o jornal tem despesas mensais de 600 a 700 mil euros por mês e o Grupo Lena, a braços com um passivo de 600 milhões, pretende desinvestir da comunicação social.

Primeiro, conforme li num editorial de um jornal concorrente, na altura em que o "i" foi projectado, foi prometido aos seus promotores que existiria dinheiro para financiar o projecto durante 3 anos, período findo o qual o jornal teria de voar com as suas próprias asas. E que terá sido assim que o Grupo Lena seduziu muitos jornalistas de top que constituem a redacção do "i". Infelizmente, ao final de um ano, parece que já não há mais dinheiro e que aquilo que foi prometido não corresponde à realidade. Por isso, não será de espantar que, em breve, toda a roupa suja do Grupo Lena comece a aparecer escarrapachada na imprensa e que aquele realmente se arrependa de algum dia ter entrado na comunicação social...

Segundo, a implosão do "i", e de toda a imprensa escrita em geral, demonstra a crise em que mergulhou o sector. Por um lado, por culpa das novas tendências, sobretudo devido à internet, mas também por culpa própria. Eu escrevo nos jornais desde 2004, colaborando ainda, de forma esporádica, com algumas revistas, por isso, tenho uma opinião formada acerca deste assunto, que, por diversas vezes, tenho repetido junto de algumas pessoas com responsabilidades no sector. E passa essencialmente pelo seguinte: os jornais portugueses são demasiado extensos, demasiado agarrados à pequena notícia que qualquer um pode consultar na net, e, em geral, não possuem colunistas originais. Além disso, continuam vinculados a tabelas de publicidade, a preços proibitivos, que, dada a crise do mercado, não fazem sentido.

Assim, falta em Portugal um jornal do tipo "International Herald Tribune", que tenha colunistas originais, tipos que arrisquem uma opinião (e uma polémica) e que sejam especializados em alguma coisa que não apenas na política. E, sobretudo, um jornal que desenvolva as tais pequenas notícias em grandes artigos de alcance estratégico. Tudo isto em apenas 25 páginas. Enfim, nestas condições, acredito, francamente, que existe em Portugal um mercado de cinquenta mil leitores (0,5% da população) para uma publicação com tais características, que, por sua vez, permita viabilizar as proibitivas tabelas de publicidade que, inacreditavelmente, ainda se tentam praticar.

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