09 março 2010

I had a dream


Da leitura da imprensa económica de hoje resulta o seguinte: dos 10 mil milhões de euros que Portugal terá de eliminar do seu défice orçamental até 2013, seis mil milhões (60%) serão obtidos através das privatizações anunciadas ontem, sendo que estas, efectivamente, só contam para a amortização da dívida pública (e não para a redução do défice). Quanto às outras componentes da consolidação orçamental, no máximo, cerca de 20% resultará da redução conjunta dos benefícios (e deduções) fiscais no IRS e do consumo público previsto até 2013. Por fim, o resto, os restantes 20% da consolidação necessária, resultarão da expectativa de que o ritmo de crescimento do PIB permita reduzir o peso dos salários e das pensões no conjunto da economia. O défice vai baixar, porém, o endividamento - segundo o ministro - vai continuar a aumentar, o que, digo eu, será um sinal de que, bem lá no fundo, quase nada mudou.

Em suma, será que este PEC fará de Portugal um país mais competitivo, diferente para melhor, dentro de cinco anos? Não - é mais do mesmo. Ora, é isso que aqui está em causa, ou seja, esta é uma oportunidade dourada - a pretexto da consolidação orçamental exigida pelos nossos parceiros europeus - de restaurar as bases de competitividade da nossa economia. Mas que está a ser desperdiçada. Dentro de cinco anos, Portugal continuará em morte lenta. A máquina estatal manter-se-á pesada, burocrática e ineficiente. Os empresários continuarão encostados ao Estado e os políticos a fazer da política uma profissão. Os trabalhadores, em particular os do Estado, manter-se-ão em negação, vivendo de salários desajustados da sua produtividade. E os impostos, naturalmente, seguirão altos de mais, a fim de pagar juros sobre a dívida pública, inviabilizando a actividade produtiva, desincentivando o aforro e o investimento.

Enfim, é mesmo isto que queremos?

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