15 março 2010

Cortar a eito


Desde que o congelamento dos salários da Função Pública foi anunciado, algumas empresas do Sector Empresarial do Estado, nomeadamente a TAP e a CGD, vieram a público argumentar em prol de regimes de excepção. Ora, como é evidente não podem existir regimes de excepção, caso contrário, eu próprio, que sou favorável à redução nominal dos vencimentos no Estado, seria o primeiro a dizer aos funcionários públicos: mandem o Governo para o raio que o parta. De resto, a situação é particularmente caricata na TAP. Com que então, naquela empresa, cujos capitais próprios são negativos em mais de duas centenas de milhões de euros - ou seja, é uma empresa que está falida e que não existiria sem o erário público -, os senhores pilotos acham-se no direito de chantagear a administração, recusando aumentos de 8,5%, que mais ninguém, na órbita do Estado, terá e exigindo até, de acordo com a imprensa de hoje, aumentos de 100% nos subsídios de aterragem - bolas, pensava que o salário do piloto era suposto pagar o levantar e o aterrar, mas parece que não! - e nas ajudas de custa que recebem...Enfim, não dá para entender.

Ora, no estado em que está o país, com tantos desempregados sem qualquer perspectiva de melhoria de vida, é preciso acabar com esta pouca vergonha e estas muitas clientelas especiais. Como há dias escrevia a Economist, "Politicians need to hold their nerve and make cuts. They should remember what doctors have always known: those who shout loudest are not always the ones in the most pain". É o que está a acontecer na Grécia e, também, por cá, onde quem mais tem protestado é quem menos razão tem para protestar. Aliás, é isso que, apesar de tudo, mantém a popularidade de alguns políticos, como Papandreou e Sócrates, relativamente pouco beliscada pela crise. Mas concluindo, no caso dos pilotos da TAP, se eu fosse o Fernando Pinto fazia como fez o Reagan nos anos 80 com os controladores aéreos: despedia-os e contratava outros (na Força Aérea, no estrangeiro, fosse onde fosse). E, de seguida, propunha a privatização da empresa: talvez, assim, pondo ordem na casa e mostrando quem manda, se melhorassem depois os lucros da privatização, permitindo compensar o Estado pelos custos extraordinários associados às rescisões, entretanto, operadas. De resto, esta solução poderia depois ser aplicada a outras empresas públicas, em particular as deficitárias, e outros serviços autónomos do Estado. O país precisa de ser gerido com firmeza. Logo, todos os Fernandos Pintos têm de se lembrar disso e contribuir com a sua parte!

Sem comentários: