11 fevereiro 2010

quanto basta

Os tempos que aí vêm farão de Paulo Rangel um ambicioso sem escrúpulos, um ingrato sem memória, um vaidoso precipitado, um pigmeu político que alçou um passo maior que a perna. As suas palavras sobre Maquiavel serão lembradas à exaustão. O compromisso de não se candidatar à liderança do PSD será repetido infinitamente. O seu lugar de deputado europeu constituirá um impedimento intransponível. As relações pessoais com Aguiar-Branco provarão a deslealdade e a ausência de carácter. O apoio de Ferreira Leite transformá-lo-á num capacho da actual direcção. Rangel candidatou-se à liderança de PSD e a primeiro-ministro de Portugal e essa disputa estava reservada a Pedro Passos Coelho, pelos que são contra a direcção actual, e a José Pedro Aguiar Branco, que se pretende herdeiro do que tem estado. Rangel veio estragar a harmonia deste magnífico arranjo.

Só que o apelo a liderar um partido que pode chefiar o governo de um país é interior, individual e absolutamente íntimo, e não deve compaginar-se com nada mais que não seja o atrevimento pessoal de quem se arroga a essa vocação. Um líder não pede licença para o ser, nem submete a sua pretensão a vocações alheias. Como se alguma vez Francisco Sá Carneiro tivesse pedido autorização a Emídio Guerreiro, a Sousa Franco ou a Magalhães Mota para os desalojar do lugar que ele mesmo deixara vago. Ou como se Cavaco Silva tivesse obtido licença de Salgueiro para lhe ganhar o congresso da Figueira da Foz. Ou como se Durão Barroso tivesse pedido desculpas a Marcelo por o ter desapeado da liderança do partido, impedindo-o assim de ter sido primeiro-ministro de Portugal, função que ele certamente teria desempenhado com mais dignidade do que o actual presidente da Comissão Europeia.

A verdade dos factos é que Rangel assumiu que quer ser líder do PSD e primeiro-ministro de Portugal. Decidiu sozinho, sem prestar atenção ao que dizem Pedro Passos Coelho e Aguiar-Branco, e, naturalmente, por cima das legítimas ambições que estes possam ter sobre os mesmos cargos. Está no seu pleno direito e isso é quanto basta. Se quiserem vir a merecer a confiança dos eleitorados – o do partido e o do país – os seus adversários só têm que demonstrar que são as pessoas certas para os lugares que querem ocupar. Mas não é isso que um e outro têm feito. Passos refugiou-se ultimamente num tacticismo institucional e silencioso, tentando evitar ao máximo que surgisse outro candidato que lhe pudesse ameaçar o lugar, e Branco ficou à espera que não aparecesse mais ninguém contra Passos para avançar. Nenhum deles demonstrou o arrojo e o atrevimento necessários para recuperar um partido e um país que estão no limite das suas resistências. Paulo Rangel fez estremecer o charco e, só por isso, deve merecer a melhor atenção.

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