
Só que o apelo a liderar um partido que pode chefiar o governo de um país é interior, individual e absolutamente íntimo, e não deve compaginar-se com nada mais que não seja o atrevimento pessoal de quem se arroga a essa vocação. Um líder não pede licença para o ser, nem submete a sua pretensão a vocações alheias. Como se alguma vez Francisco Sá Carneiro tivesse pedido autorização a Emídio Guerreiro, a Sousa Franco ou a Magalhães Mota para os desalojar do lugar que ele mesmo deixara vago. Ou como se Cavaco Silva tivesse obtido licença de Salgueiro para lhe ganhar o congresso da Figueira da Foz. Ou como se Durão Barroso tivesse pedido desculpas a Marcelo por o ter desapeado da liderança do partido, impedindo-o assim de ter sido primeiro-ministro de Portugal, função que ele certamente teria desempenhado com mais dignidade do que o actual presidente da Comissão Europeia.
A verdade dos factos é que Rangel assumiu que quer ser líder do PSD e primeiro-ministro de Portugal. Decidiu sozinho, sem prestar atenção ao que dizem Pedro Passos Coelho e Aguiar-Branco, e, naturalmente, por cima das legítimas ambições que estes possam ter sobre os mesmos cargos. Está no seu pleno direito e isso é quanto basta. Se quiserem vir a merecer a confiança dos eleitorados – o do partido e o do país – os seus adversários só têm que demonstrar que são as pessoas certas para os lugares que querem ocupar. Mas não é isso que um e outro têm feito. Passos refugiou-se ultimamente num tacticismo institucional e silencioso, tentando evitar ao máximo que surgisse outro candidato que lhe pudesse ameaçar o lugar, e Branco ficou à espera que não aparecesse mais ninguém contra Passos para avançar. Nenhum deles demonstrou o arrojo e o atrevimento necessários para recuperar um partido e um país que estão no limite das suas resistências. Paulo Rangel fez estremecer o charco e, só por isso, deve merecer a melhor atenção.
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