14 fevereiro 2010

Okinawa


Nos próximos meses, será tomada uma decisão que, um dia, a História poderá descrever como tendo sido decisiva na caminhada da China rumo ao estatuto de maior potência mundial do século XXI: a provável retirada norte-americana da base naval de Okinawa, no Japão, essencial ao equilíbrio geo-estratégico internacional.

No Japão, o governo de Hatoyama, desde a sua eleição há cerca de um ano, tem preconizado uma maior aproximação política à China. Trata-se, simplesmente, de dar continuidade política à realidade económica, pois a China já é o principal parceiro comercial do Japão. Em face destas novas orientações, a relação entre o Japão e os Estados Unidos está em risco. Economicamente, mas, sobretudo, do ponto de vista político. E o elemento simbólico dessa relação é a presença militar norte-americana em solo japonês, estabelecida no pós 2ª Guerra Mundial.

A história recente do Japão, desde o início do século XX até hoje, evidencia duas realidades distintas. A primeira, a de um país com tradições nacionalistas vincadamente marcadas, que, imbuído do conceito de raça superior, subjugou militarmente toda a Ásia (incluindo a China) até ser derrotado pelas forças aliadas lideradas pela América. A segunda, a de um país que, sob protecção militar dessa mesma América, e apesar da subserviência associada a esse estatuto, rapidamente re-emergiu na cena do comércio internacional, mas mergulhando, também, numa estranha indefinição cultural, divido entre a herança do passado oriental e a modernidade dos valores ocidentais. O resultado? Um país esquisito, em busca de um novo rumo.

Infelizmente, Hatoyama não parece estar muito bom da cabeça. Só assim se entende a ingénua ideia de fomentar uma aliança com a China. Por um lado, esquece-se das atrocidades que os japoneses lá cometeram e que, provavelmente, não estão sanadas nem nunca estarão. Por outro lado, ilude-se ao pensar que os japoneses poderão liderar a inércia de uma tal parceria. Pelo contrário, o Japão tem tudo a perder. Até a sua própria soberania, pois, se o Japão virar as costas aos Estados Unidos, perderá a sua segurança militar, para a qual, depois de décadas quase sem investir em Defesa, não tem alternativa. Acresce a isso, uma população muito envelhecida e um Estado altamente endividado...e a China tem tudo a ganhar.

Por fim, "last but not least", se os Estados Unidos forem forçados a abdicar da sua base em Okinawa, será um rude golpe na sua estratégia de intimidar a China no que diz respeito ao Taiwan. Até agora, a base no Japão, bem como essa aliança histórica, tem sido fundamental no equilíbrio de forças no Oriente. Mas sem Okinawa e sem o Japão, e numa altura em que a agenda chinesa "cresce" na cena internacional, os Estados Unidos provavelmente "perderão" também o Taiwan. E a China...uma vez mais, tem tudo a ganhar.

Sem comentários: