"A Igreja não tem modelos sociais a propor" (CA:43), escreve o Papa João Paulo II na Encíclica Centesimus Annus que é, na minha opinião, o documento central da moderna Doutrina Social da Igreja. Na realidade, a Doutrina Social da Igreja tem sido frequentemente criticada por ser imensamente vaga, por isso, nem nas Faculdades de Economia nem nas de Sociologia, menos ainda talvez nas de Política, ela tem despertado o interesse da investigação académica.
O Papa logo a seguir acrescenta: "Os modelos reais e eficazes poderão nascer apenas no quadro das diversas situações históricas, graças ao esforço dos responsáveis que enfrentam os problemas concretos em todos os seus aspectos sociais, económicos, políticos e culturais que se entrelaçam mutuamente" (CA: 43).
Por outras palavras, não existem soluções milagrosas, ou universais no sentido de Kant, que possam aplicar-se monotonicamente a todas as comunidades humanas. Cada comunidade humana tem de encontrar as soluções para os seus próprios problemas e os arranjos institucionais mais adequados aos problemas que enfrenta e mais conformes às suas tradições históricas. A contribuição da Igreja é a de oferecer a sua doutrina social como "orientação ideal indispensável" (CA: 43).
Esta posição está nos antípodas das modernas ideologias, como o socialismo e o liberalismo que, possuindo as suas raizes no pensamento protestante de Kant, se vêem a si próprias como soluções universais de organização social, uma tentativa de imitar a universalidade do catolicismo e que se exprime, respectivamente, no internacionalismo socialista e no globalismo liberal. É esta insensibilidade à história, à cultura e às circunstâncias que já me levou a dizer a propósito de Ludwig von Mises que ele seria capaz de pregar o seu liberalismo exactamente da mesma maneira no centro de Nova Iorque ou no meio da selva latino-americana. O mesmo vale para Marx e o seu socialismo.
Não deixa de ser curioso que estas fórmulas milagrosas para salvar a humanidade e promover o seu bem-estar, como são as ideologias, tenham saído sempre da mente de autores judeus e protestantes, eles que criticam a Igreja Católica por acreditar em milagres. Menos surpreendente é o fascínio que estas fórmulas exercem sobre os académicos porque a sociedade não estaria certamente disposta a pagar-lhes se eles não tivessem um milagre para lhe oferecer. E milagres que são à escolha do freguês, cada seita oferecendo o seu.
Porém, a verdade permanece de que a única solução racional para a organização de uma comunidade é a solução católica, porque é a única que se ajusta às diferenças contidas no homem e às diferenças da sua história e tradições, uma solução que é ao mesmo tempo um projecto de investigação para sociólogos, economistas e politólogos e que poderia resumir-se na frase: "Faça o fato à medida do cliente. Tome lá o tecido, as linhas, os botões e toda a boa matéria prima que precisa".
Neste sentido, a Doutrina Social da Igreja pode abarcar todas as soluções de organização social já conhecidas, desde o anarquismo ao extremo colectivismo, passando pelo liberalismo e pela social-democracia e outras que possam ser criadas, desde que a comunidade daí resultante oriente as suas actividades tendo como fim o homem (personalismo), as pessoas possam sentir um mínimo de segurança nas suas vidas que lhes é assegurado pela sua participação na comunidade(solidariedade) e que cada homem possa dispor no seu trabalho e na sua vida de uma autonomia ou liberdade suficiente (subsidiaridade).
Aquilo que pode parecer estranho é que os académicos dos países católicos, que trabalham nas áreas sociais - como economistas, sociólogos, especialistas em política - passem o tempo encantados com as fórmulas milagrosas importadas dos países protestantes, e nunca lhes tenha ocorrido explorar o enorme potencial de criatividade - sublinho, criatividade, porque o catolicismo é frequentemente acusado de falta de criatividade - que lhes é oferecido pela sua tradição católica. Na realidade, eu suspeito que até se envergonham dela, e por isso nunca se houve falar dela nas suas Faculdades.
O Papa logo a seguir acrescenta: "Os modelos reais e eficazes poderão nascer apenas no quadro das diversas situações históricas, graças ao esforço dos responsáveis que enfrentam os problemas concretos em todos os seus aspectos sociais, económicos, políticos e culturais que se entrelaçam mutuamente" (CA: 43).
Por outras palavras, não existem soluções milagrosas, ou universais no sentido de Kant, que possam aplicar-se monotonicamente a todas as comunidades humanas. Cada comunidade humana tem de encontrar as soluções para os seus próprios problemas e os arranjos institucionais mais adequados aos problemas que enfrenta e mais conformes às suas tradições históricas. A contribuição da Igreja é a de oferecer a sua doutrina social como "orientação ideal indispensável" (CA: 43).
Esta posição está nos antípodas das modernas ideologias, como o socialismo e o liberalismo que, possuindo as suas raizes no pensamento protestante de Kant, se vêem a si próprias como soluções universais de organização social, uma tentativa de imitar a universalidade do catolicismo e que se exprime, respectivamente, no internacionalismo socialista e no globalismo liberal. É esta insensibilidade à história, à cultura e às circunstâncias que já me levou a dizer a propósito de Ludwig von Mises que ele seria capaz de pregar o seu liberalismo exactamente da mesma maneira no centro de Nova Iorque ou no meio da selva latino-americana. O mesmo vale para Marx e o seu socialismo.
Não deixa de ser curioso que estas fórmulas milagrosas para salvar a humanidade e promover o seu bem-estar, como são as ideologias, tenham saído sempre da mente de autores judeus e protestantes, eles que criticam a Igreja Católica por acreditar em milagres. Menos surpreendente é o fascínio que estas fórmulas exercem sobre os académicos porque a sociedade não estaria certamente disposta a pagar-lhes se eles não tivessem um milagre para lhe oferecer. E milagres que são à escolha do freguês, cada seita oferecendo o seu.
Porém, a verdade permanece de que a única solução racional para a organização de uma comunidade é a solução católica, porque é a única que se ajusta às diferenças contidas no homem e às diferenças da sua história e tradições, uma solução que é ao mesmo tempo um projecto de investigação para sociólogos, economistas e politólogos e que poderia resumir-se na frase: "Faça o fato à medida do cliente. Tome lá o tecido, as linhas, os botões e toda a boa matéria prima que precisa".
Neste sentido, a Doutrina Social da Igreja pode abarcar todas as soluções de organização social já conhecidas, desde o anarquismo ao extremo colectivismo, passando pelo liberalismo e pela social-democracia e outras que possam ser criadas, desde que a comunidade daí resultante oriente as suas actividades tendo como fim o homem (personalismo), as pessoas possam sentir um mínimo de segurança nas suas vidas que lhes é assegurado pela sua participação na comunidade(solidariedade) e que cada homem possa dispor no seu trabalho e na sua vida de uma autonomia ou liberdade suficiente (subsidiaridade).
Aquilo que pode parecer estranho é que os académicos dos países católicos, que trabalham nas áreas sociais - como economistas, sociólogos, especialistas em política - passem o tempo encantados com as fórmulas milagrosas importadas dos países protestantes, e nunca lhes tenha ocorrido explorar o enorme potencial de criatividade - sublinho, criatividade, porque o catolicismo é frequentemente acusado de falta de criatividade - que lhes é oferecido pela sua tradição católica. Na realidade, eu suspeito que até se envergonham dela, e por isso nunca se houve falar dela nas suas Faculdades.
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