22 janeiro 2010

Em queda livre


Ontem à noite, estive em Lisboa num jantar de ex-alumni portugueses da Columbia University, presidido por uma alta individualidade de um organismo público, e onde o orador convidado foi um destacado executivo do sector privado. Tratou-se de um encontro informal, que permitiu um aceso debate acerca dos problemas estruturais do país. A principal conclusão a que chegámos foi a de que as pessoas - cidadãos e empresas - respondem a sistemas de incentivos, e que aqueles que existem em Portugal não estimulam a criação de riqueza.

Um dos pontos mais quentes foi a discussão em redor da falta de preparação, e competitividade, dos recursos humanos em Portugal. Por exemplo, no sector privado somente 10% da população activa tem formação superior. Ora, isso representa, sem dúvida, um obstáculo à modernização do país, porém - ao contrário do que senti em alguns presentes -, não deve servir de motivo que justifique a adopção de um certo paternalismo estatal que se vê entre nós, ou seja, uma certa arrogância intelectual com que os decisores políticos tratam o povo. Porque, na minha opinião, o povo não é estúpido e não precisa de ser conduzido; precisa apenas de ser incentivado, não sendo esse fim atingido através de uma cultura de subsídios. Estes até podem ter o seu lugar na estrutura de incentivos, mas apenas na margem e não no seu todo.

Infelizmente, todos concluímos, é difícil antever qual será o agente indutor da mudança e como se concretizará essa mudança. Na tertúlia de ontem, a maioria dos presentes inclinou-se para soluções que eu considero, meramente, incrementais. Ao invés, eu tentei expôr o argumento no sentido de se adoptarem medidas "out of the box", partindo, também, do pressuposto de que o agente indutor da mudança será externo. Mas, enfim, eu estou profundamente pessimista acerca do meu país, daí que sinta que o incentivo à "revolução" seja cada vez maior. E, outra nota importante, no país dual, que todos concordaram termos, eu era o único proveniente da metade "menos dual" de Portugal. Esse é outro aspecto que talvez intensifique o meu desconforto e que agudiza uma certa raiva que, progressivamente, vou sentindo face aos poderes e intelectuais instalados em Lisboa. É sinal de que, provavelmente, está na altura de eu desligar um bocadinho de tudo isto e pensar noutras coisas. Sendo certo, que os Portugueses, espalhados por todo o país, merecem mais e melhor.

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