26 janeiro 2010

E agora, Carlos?



"Um governo com medo da rua, não pode governar. Ou governa a pensar no país ou na reeleição. A maioria relativa obrigava a oposição a definir se queria participar no ónus dessa redução ou se queria ser populista. Moral da história: a rua vai-se manifestar, e o governo nem atacou o problema. Na mesma linha, a questão das privatizações que parece ter convencido o PP, é relevante apenas na óptica da redução da dívida pública, à qual estão consignadas as receitas de privatizações, e isso sendo importante, mas não ataca os problemas estruturais do país. Porque vender os anéis, reduz as dívidas, mas não as causas que continuam a gerar as mesmas dívidas. Dito de outra forma: o que alimenta o défice, continua intocável. E esse défice agravará a dívida neste e em anos vindouros, seja qual for o patamar dessa dívida. Estou totalmente de acordo que companhias de aviação de bandeira são símbolos do passado, que o BPN deve regressar ao mercado, que a ANA poder ser privatizada, e mesmo a RTP (as águas são um problema mais sério). Mas isto é ilusório: não são receitas e despesas do sector público administrativo. Nada têm a ver com o défice. Vão baixar o peso da dívida no PIB se levadas a cabo, mas o cancro do despesismo excessivo do Estado na satisfação de constituencies, continua lá. E a incapacidade de gerar receitas adicionais também. Agora, agravado com a obsessão do PM com as obras públicas que defendeu com os juros não subiam e continua a defender quando já há danos efectivos daí resultantes para o sector privado.", Carlos Santos, via A Regra do Jogo (o bold é meu).

Hoje, quando fui ler o nosso querido camarada Carlos Santos, com quem já tive um despique na blogosfera, meu Deus, nem queria acreditar... O Carlos está, agora, mais falcão que a própria Ferreira Leite! Atacar o défice, privatizar a ANA e a RTP, atacar o Primeiro Ministro pela sua obsessão com as obras públicas!! Uau. Confesso que tive de ler o texto várias vezes, para me certificar que nele não existia qualquer registo de cinismo. E, felizmente, não há. O que há é outra coisa: há um novo Carlos Santos!

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