Joaquim, sempre que operes um doente e ocorram complicações, as complicações devem-se à cirurgia, até prova em contrário.
Esta foi a primeira lição que eu aprendi no meu internato de cirurgia nos EUA. Quando executamos uma intervenção cirúrgica e nos pós-operatório surgem complicações, há uma tendência natural para procurarmos causas externas e negligenciarmos a influência do procedimento que efectuámos. Uma boa formação médica deve afastar-nos deste vício de pensamento.
Imaginem que um cirurgião opera uma velhinha de 80 anos a uma hérnia inguinal e que a doente vem a falecer 48 horas após a intervenção. Há duas maneiras de olhar para o problema. A “portuguesa”: A senhora já era velhota e podia ter morrido de qualquer coisa... E há a “norte-americana”: Se não tivessem operado a velhota, ela ainda por aí andava com a sua hérnia.
Fiquei surpreendido com esta lógica, tão estranha para um português, mas adoptei-a de imediato. Aliás, não me foi dada qualquer alternativa. O esclarecimento veio com autoridade suficiente para eu perceber que era uma ordem.
Foi o melhor ensinamento que recebi em toda a vida, aplica-se a tudo.
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