25 novembro 2009

que crime é esse?

O comportamento de alguns protagonistas do processo Face Oculta é tão tipicamente português que quase sentimos pena destes tipos. Ajudaram uns amigos, meteram umas cunhas, assinaram uns contratos de favor, cobraram umas comissões, eu sei lá... Fizeram o que 90% dos portugueses teriam feito nas mesmas circunstâncias. O único problema é que foram apanhados e agora tudo parece mesquinho e desproporcionado.
Deixem-me frisar bem que eu não aprovo estas condutas e que espero que todos os responsáveis sejam punidos por quaisquer crimes cometidos. O que eu estou a dizer é que estamos a falar de comportamentos tão embrenhados na nossa cultura que, se os acusados ou arguidos ou réus ou lá o que vierem a ser, fossem julgados num tribunal democrático, daqueles com júri à americana, iam todos para casa a cantarolar.
O crime, o verdadeiro crime, é o Estado empresário, o Estado prestador de serviços, o Estado especulador financeiro, o Estado perdulário, o Estado gatuno. O Estado que usurpa as funções da sociedade civil e que depois coloca correlegionários à frente de organizações que movimentam centenas de milhões de contos dos contribuintes. Esse é o crime. Um crime que nunca será julgado.
Uma das minhas citações favoritas é de Berthold Brecht: Que crime é esse de roubar um banco, comparado com o crime de fundar um banco?
Gostaria de perguntar: Que crime é esse de roubar empresas públicas, comparado com o crime de (o Estado) fundar empresas públicas?

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