27 novembro 2009

Que cliente chato


O ex-ministro das Finanças, Luís Campos e Cunha escreve hoje um excelente artigo no Público relativo a aspectos "comezinhos" - como diria o Dr. Soares - da vida quotidiana, mas que revelam muito acerca da cultura de desrespeito instalada em Portugal, como exemplo do clima de inimputabilidade que se vive no país. E termina: ao contrário da América, ("where you can call the manager"), cá não é possível chamar o responsável porque ninguém dá a cara. Mas também, em boa verdade, quase ninguém protesta.

Quanto ao artigo, entre vários episódios, Campos e Cunha escreve o seguinte "falta falar da A8, auto-estrada que liga Lisboa a Torres Vedras. Quem a conhece sabe que está quase integralmente em obras para alargar a uma terceira faixa (já agora porquê? Se a entrada de Lisboa não pode ser alargada). E, por isso, a circulação faz-se em faixas estreitas, perigosas e apenas a 80 km/h. Ou seja, a A8 não é uma auto-estrada, mas pagamos como se fosse. Porquê? Porque não avançam as obras? Mais uma vez gostaria de chamar o gerente, mas não há ninguém para responder, ninguém é responsável. Uma empresa que deveria servir o público, faz as obras a passo de caracol e ninguém protesta. Eu protesto e se estivessem a perder receitas com portagens reduzidas as obras seriam mais rápidas."

Pois é, eu partilho da indignação do Prof. Campos e Cunha. O exemplo que dá, a A8, também o conheço bem em face da fazer aquela "auto-estrada" com bastante frequência. E, de facto, não se entende o ritmo de tartaruga com que decorrem as obras, sendo que as faixas estão tão encolhidas - para não falar da má qualidade do alcatrão naquela zona - que a probabilidade de acontecerem acidentes é ali enorme. As portagens - inalteradas - são pois, burlescamente, indevidas. Infelizmente, não faltam outras situações semelhantes. Por exemplo, o que me dizem das obras que decorrem há 3 ou 4 anos na A1, entre os quilómetros 260 e 280, ali perto de São João da Madeira, e que também não atam nem desatam, sem qualquer redução do preço da portagem que, escrupulosamente, nos é cobrada pela Brisa?!? E, já agora, o que é que me dizem acerca das obras que estão a ter lugar no início do IP4 junto a Amarante, onde as faixas estão tão apertadas, tão apertadas - e esperem só pela neve para ver a sinistralidade a disparar em flecha -, que até o meu Mini Cooper parece um carro grande?!?

Da última vez que eu reclamei a sério foi de forma acidental. Foi uma vez na portagem da A1 em Leiria, onde, apesar de anunciado no visor do portageiro, o serviço de Mastercard não estava disponível e - como não tinha outro cartão nem notas - tiveram de me passar uma factura. Ao chegar à loja da portagem, expliquei a situação ao funcionário, ao que me foi respondido o seguinte "Mas então, o senhor não sabe que o dinheiro vivo é a base de toda a economia?". Num acto de fúria, pedi imediatamente o livro de reclamações, identifiquei o funcionário, detalhei a situação - em especial, o facto de anunciarem que aceitam um tipo de cartão que depois, na realidade, não aceitam -, bem como a insolência do indíviduo e fui-me embora. De que é que serviu? De nada. Nunca recebi nenhuma carta da Brisa. E o referido funcionário por lá se mantém! Moral da história: reclamar em Portugal? Ora bolas, isso é como reclamar num restaurante em França: o cliente nunca tem razão!

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