22 novembro 2009

parece mal


O João Miranda, neste post, pôs o dedo na ferida: parece que, em Portugal, falar verdade acerca de determinados assuntos é tabu e quem o faz é convenientemente esquecido. O tema das contas públicas é disso exemplo. Num país com sentido crítico jamais (!) se aceitariam afirmações como aquela que, repetidamente, ouvimos dos governantes PS na última legislatura, em especial no último ano, segundo as quais "pusémos as contas públicas em ordem!". Claro que não as puseram em ordem, porque as contas nunca sairam do vermelho. Mas enfim...No entanto, nos programas dedicados ao assunto raramente se ouviu crítica à séria. Os programas, em particular os televisivos, iam-se repetindo, mas quase sempre com os mesmos intervenientes, em geral, a debitar a mesma lenga lenga, sem rasgo nem originalidade.

Contudo, ao contrário do que o João Miranda dá a entender no seu post, penso que a falta de qualidade e isenção da opinião veiculada não tem unicamente a ver com critérios editoriais dos media. Sendo certo que a TV em Portugal não arrisca muito na hora de convidar comentadores menos conhecidos do público ou comentadores de perfil iminentemente técnico que não estejam partidarizados, penso que o problema maior é cultural. A inibição pública é um traço característico dos portugueses, que não têm muito à-vontade para falar em público, muito menos quando têm de arriscar uma opinião pessoal ou uma previsão acerca do futuro. É, por isso, que eu admiro o estilo de Medina Carreira que diz o que pensa sem papas na língua. É um estilo que, eu próprio, quando vou à RTP-N, tento replicar, à minha maneira, e que passa essencialmente por tentar passar uma mensagem concreta e convicta, sem medo de poder falhar na interpretação dos factos. Mas não é frequente vermos esta postura e quem a pratica é imediatamente desqualificado(a) como irresponsável. Em geral, os portugueses jogam à defesa e não se abrem. Não porque não o saibam fazer - na realidade, em privado e nos bastidores fazem-no e em grande estilo -, mas porque parece mal fazê-lo!

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