Não nutro qualquer tipo de “desprezo” por esta forma de hobbesianismo latente neste post do Corcunda, tão pouco pela fobia anti-democrática que sempre fundamenta as suas opiniões. Só lamento que pessoas bem preparadas, como ele, não consigam manter uma distância saudável em relação a perversões políticas, como o jacobinismo. Porque, não aceitar que as galinhas possam conviver ordeiramente no galinheiro e entre si mesmas possam encontrar as regras e garantias necessárias a essa convivência, equivale a entregar o comando do galinheiro a alguns galináceos de pena mais ou menos comprida. A questão reside no ethos que inspira o comportamento e a acção (política) destes últimos? Talvez, meu caro. Mas desengane-se se pensa que esse ethos estava ausente do pensamento dos galináceos jacobinos, como, por exemplo, no pensamento que fundamentou as acções do Incorruptível. Ele próprio, dirigindo-se aos jacobinos mais radicais, a propósito da questão religiosa que agitou a França no começo da década de 90, do século XVIII, justificou-se assim: “Eu mesmo acredito nos princípios eternos sobre os quais repousam a fraqueza humana antes de ela começar a seguir o caminho da virtude. Essas não são palavra vãs na minha boca, não mais do que foram vãs na boca de muitos grandes homens, não menos morais pela crença na existência de Deus. (...) Sim, é arriscado invocar o nome da Providência e expressar a ideia do Ser Eterno que afecta intimamente os destinos das nações, e que a mim, pessoalmente, parece cuidar de forma muito especial da Revolução Francesa. Mas a minha crença é sincera; é um sentimento que não posso deixar de lado.” Ora, se um justo peca sete vezes ao dia, porque razão não haveria de pecar também o Incorruptível?
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