30 outubro 2009

a coisa disforme

Porque há-de esta coisa disforme chamada PSD, uma espécie de bordel onde entra sempre mais um desde que traga algum no bolso, uma agremiação de gente desencontrada, maldicente e incapaz de conviver civilizadamente num espaço comum, uma torre de babel política onde ninguém fala a mesma língua e se consegue entender, uma trupe que só verdadeiramente soube estar quieta sob o impiedoso estalar do chicote de Aníbal Cavaco Silva (que dela se havia rapidamente, até hoje, de cansar), formar um só único partido, ter um só nome, usar uma única sigla e reivindicar um líder comum? Se esta gente não é capaz de se entender, se não consegue passar um ano que seja sem abalroar o «chefe», se não tem os mesmos princípios e valores (a maior parte não tem princípios e valores alguns), se entre eles mesmos se distinguem – com nojo aristocrático e revolta plebeia – entre as «elites» e os «populistas», se vomitam reciprocamente aleivosidades, e se já nem sequer o poder – de que estão há muito justamente afastados – existe para cimentar a ausência de escrúpulos, porque não se separam, porque não se dividem em tantos partidos quantos os bandos que constituem a patente política registada no Tribunal Constitucional com o nome de Partido Social Democrata? Tudo seria mais sério se, por exemplo, se desentendessem como Giscard d’Estaing e Chirac se desentenderam há muitos anos, e se partissem a coisa em dois blocos como se partiram a UDF e o RPR. Ou se a dividissem entre as «elites» da Linha e da Marmeleira e os «populistas» de Gaia e da Madragoa, e a transformassem em formas similares à CDU e à CSU alemãs. Divididos e melhor definidos, poderiam – quem sabe? – unir-se mais tarde para prepararem o assalto ao orçamento do estado, como, de resto, aquelas outras agremiações francesas e alemãs (muito mais respeitáveis, é certo) fazem, com êxito, há muitos anos nos seus países. Em suma, o PSD não carece de continuar «unido» sob a mesma denominação legal para ganhar eleições e respeitabilidade. Se calhar, do que precisava para atingir esses objectivos imprescindíveis à conquista do eleitorado e do poder, era precisamente de se separar em tantas formas quantas as suas naturezas. Se é que ainda por lá há alguma.

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