28 agosto 2009

inner circle

Em trinta e quatro anos que leva a III República, foi ontem, pela primeira vez, que ouvi um líder partidário em exercício - a Dr.ª Manuela Ferreira Leite - a criticar aberta, frontal e fundamentadamente o estatismo, o estatismo dirigista, e a dizer, também com clareza, que o estado e o governo são instrumentais em relação à sociedade e aos indivíduos, e não o contrário. Esta posição é verdadeiramente nova no PSD e na classe política dirigente portuguesa. E contrasta frontalmente com a do Partido Socialista, que mantém - e muito bem porque é socialista - a visão de que é a partir do estado, do governo e do investimento público que se promove o desenvolvimento.

A crítica ao estatismo ontem feita pela líder do PSD, a proposta de uma economia fundada sobre a livre-iniciativa e as empresas e não sobre o estado e o investimento público, foram os pontos nucleares do discurso de Manuela Ferreira Leite, e não devem ser contornados nem secundarizados. Pelo contrário, eles serão, segundo afirmou, os pressupostos do seu futuro governo, caso o venha a constituir e a liderar. Por mim, parece-me que nenhum liberal pode deixar de subscrever o que ela disse, ainda que tenha sido dito por quem menos se esperaria que fosse capaz de o dizer. A verdade é que o disse.

Fica naturalmente por determinar se a vontade declarada corresponderá à vontade real de um futuro governo chefiado por Manuela Ferreira Leite. Ou se o partido, se os seus barões e os muitos interesses envolvidos a consentirão. Esse é o risco inerente à política e não se pode contornar antes das coisas acontecerem. Mas também não é legítimo presumir que ela venha a fazer o contrário do que ontem anunciou, e que se tenha posicionado com reserva mental perante o país.

Todavia, seria interessante ver Manuela Ferreira Leite dar mais um passo no sentido de credibilizar o seu discurso. Por mim, ela deveria anunciar nos próximos dias quem serão os seus ministros das cinco áreas prioritárias governativas que escolheu: justiça, segurança (administração interna), economia, educação e segurança social. Ou seja, por outras palavras, quem será o seu inner circle. Isso ajudaria a ajuizar melhor da seriedade de intenções e da exequibilidade das propostas, e corresponderia um pouco à tradição infelizmente perdida dos principais partidos da oposição apresentarem os seus governos sombra.

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