E a moda dos manifestos continua! Ontem, foi divulgado o terceiro, desta feita, assinado por um conjunto de empresários de obras públicas e, ainda, por elementos conotados com o actual Governo. Os apoiantes deste terceiro documento alegam que os grandes investimentos públicos permitirão "reforçar e dar maior coerência ao tecido económico e empresarial, superando constrangimentos fundamentais e valorizando as condições de atractividade do investimento externo de qualidade" (edição de hoje do Público). Bonitas palavras!
Infelizmente, este documento parece-me irrelevante. Porque não discute a essências das coisas, omitindo a análise de custos e receitas previstas (diferente de potenciais!) associada ao TGV, ao Aeroporto e às novas Auto-Estradas. A única informação relevante apresentada ontem, através de Filipe Soares Franco, é que a incorporação nacional dos projectos, a parte que não será subcontratada ao estrangeiro, está estimada em 70% (edição de hoje do Diário Económico). Contudo, trata-se de um dado que carece de confirmação independente, tendo sido avançado somente por aquele empresário na sua qualidade de presidente da Associação Nacional de Empresas de Obras Públicas.
Enfim, o debate está distorcido. E pior do que isso, com excepção do primeiro manifesto, os outros dois apenas contribuiram para o partidarizar. A lógica empresarial, que em maior ou menor grau, deveria ser o elemento de apoio às decisões finais, foi relegada para segundo plano. É que, por um lado, concordo que Portugal tem de saber para onde quer caminhar. Temos de ter uma visão do futuro, nem que seja apenas um sonho ou um ideal que possa mobilizar os principais agentes do país. Mas, por outro lado, temos de ter os pés na terra e conhecer a realidade do presente. E, neste aspecto, o actual endividamento externo do país é algo de incontornável e incompatível com a realização de projectos sem retorno empresarial que, a prazo, mais não farão do que enriquecer meia dúzia de empresas à custa do empobrecimento geral do país - na forma de mais endividamento externo e mais dívida pública - e dos cidadãos - na forma de impostos mais altos.
Será que é isto que os portugueses querem?
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