21 julho 2009

mais protestante


"Pedro Arroja

(...) Há uma questão que gostava de introduzir, relativamente à América Latina. Tem a ver com o crescimento dos evangélicos, que tem sido exponencial nesta última década - no Brasil são entre 25 a 30% da população, na Guatemala já chegaram, número de organizações católicas, aos 50%. Prosseguindo este crescimento, é de prever que na próxima década as alterações no mapa religioso sejam profundas. Os evangélicos, apesar de, em parte, imitarem os católicos (milagres, benzeduras, etc) têm uma raiz protestante bem definida. Como influenciará isso a América Latina? E, aproveitando a oportunidade, uma constatação: o crescimento dos evangélicos foi paralelo ao crescimento da democracia - fim dos regimes militares. Coincidência ou influência directa (de qual sobre qual)?
Berger 07.21.09 - 1:27 pm #"
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O monopólio que a Igreja Católica manteve em certos países da Europa, Portugal, Espanha, Itália e seus descendentes na América Latina durante os séculos seguintes à Reforma Protestante dependeu crucialmente do controlo da informação e de um certo isolamento desses países em relação ao exterior.

As pessoas emigravam dos países católicos para os protestantes mas aqueles que ficavam nos países de origem tinham, por vezes, muita dificuldade em racionalizar esses fluxos migratórios e conhecer as suas causas profundas, e, sendo as classes mais privilegiadas, nem tinham interesse em aprofundar as razões.
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Hoje, com a informação inteiramente disponível e gratuita, não é possível ocultar mais a verdade. E a verdade é que o protestantismo criou uma cultura imensamente mais próspera do que o catolicismo.
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Num mercado religioso que se tornou transparente e livre, a própria igreja Católica já se deu conta que, ou muda na direcção protestante, ou perderá fieis no futuro - e é isso que tem vindo a acontecer com destaque para a América Latina.
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Num post anterior, referi que o Papa Bento XVI é o mais "protestante" dos últimos Papas católicos. Não surpreende. Vem da Alemanha, onde convivem católicos e protestantes, se calhar alguns membros da sua família até são protestantes. Ele não pode, por isso, ter a visão tradicional da Igreja acerca dos protestantes como ferozes hereges e flores que não se cheiram. Foi também, durante muitos anos, professor em Tubingen, a única universidade que mantém duas faculdades de Teologia - uma católica e outra protestante. Sendo um grande intelectual, ele não pode ter deixado de reconhecer, em muitos aspectos, a razoabilidade e a superioridade da teologia protestante nos debates que travou com os seus colegas.

A Igreja Católica tem vindo a tornar-se mais "protestante" sob a influência do Cardeal Ratzinger, agora Papa Bento XVI. Esta é uma revolução silenciosa que tem passado despercebida. (Cf., p. ex., aqui). Assim, no Acordo de Augsburg entre Católicos e Luteranos, sobre a doutrina da justificação (tradicionalmente, um dos temas centrais da discórdia), a acção do então Cardeal Ratzinger parece ter sido decisiva (aqui).
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Quanto ao tema da democracia, é claro que esta é uma criação protestante, e quanto maior a influência protestante num país, e menor a influência católica, maiores são as probabilidades de a democracia triunfar.
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(PS: A reacção típica e tradicinal dos católicos face aos protestantes está exemplificada na caixa de comentários a este post, onde até se fala em queimar.)

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