O sociólogo argentino Mariano Grondona desenvolveu uma tipologia que identifica cerca de vinte factores culturais que operam muito diferentemente numa cultura propensa ao desenvolvimento (cpd) e numa cultura resistente ao desenvolvimento (crd). Ele tem em vista valores essencialmente protestantes no primeiro caso e valores essencialmente católicos no segundo, a sua nativa Argentina sendo um exemplo deste segundo caso (*).
Confiança no indivíduo. A cpd respeita e tem fé no indivíduo, daí resultando igualitarismo e descentralização. A crd suspeita do indivíduo, daí resultando falta de confiança nas relações interpessoais, autoritarismo e centralização.
Sistema ético. A cpd está baseada num sistema ético assente nos valores do interesse-próprio responsável e no respeito mútuo. Na crd a moralidade visa a perfeição (altruísmo, auto-negação) que excede os limites da natureza humana e se torna utopianismo.
Virtudes menores. Um trabalho bem feito, cortesia, pontualidade, boa apresentação pessoal são elementos importantes de identificação social e de responsabilidade numa cpd. Eles não são importantes numa crd porque são vistos como obstáculos aos desejos individuais.
Perfectibilidade. Esta noção está presente como um ideal na cpd, mas apenas como situação limite a atingir no trabalho de um homem. Na crd qualquer pequena falha é utilizada pelas pessoas para induzir sentimentos de culpa no seu autor.
Respeito pela lei. Na cpd a lei é a base da autoridade e é isso que torna a democracia possível. Na crp a autoridade está acima da lei e a democracia torna-se um instrumento de novas formas de autoritarismo.
Religião. Numa cpd a religião explica e justifica o sucesso. Numa crd a religião alivia ou explica o sofrimento.
Riqueza. Numa cpd a riqueza é o produto da iniciativa e do esforço humano. Numa crd a riqueza é o stock de recursos existentes e a vida é uma luta para as pessoas se apropriarem deles.
Concorrência. Numa cpd a concorrência é vista como uma força positiva que promove a excelência e enriquece a sociedade. Numa crd a concorrência é vista como uma agressão que ameaça a estabilidade e a solidariedade, em parte porque suscita a inveja.
Justiça económica. Numa cpd a justiça económica exige poupança e investimento para o benefício da geração presente e das gerações futuras. Numa crd a justiça económica é vista como uma distribuição equitativa em favor dos membros da geração presente.
Trabalho. Numa cpd o trabalho é um dever moral e social e uma forma de auto-expressão e satisfação pessoal. Numa crd, o trabalho é um fardo, um mal necessário; o verdadeiro prazer e satisfação são obtidos fora do local de trabalho.
Heresia ou dissenção. Numa cpd a heresia ou dissenção é crucial ao progresso, à reforma e à procura da verdade. Numa crd o herético é um criminoso que ameaça a estabilidade e a solidariedade sociais.
Educação. Numa cpd a educação favorece o espírito investigativo e a criatividade. Numa crd ela transmite ortodoxia.
Pragmatismo, racionalismo, empiricismo e utilitarismo. Estes são valores centrais de uma cpd. Pelo contrário, numa crd eles representam ameaças à estabilidade, solidariedade e continuidade. A tradição, a emoção e o acaso substituem-se aqui à racionalidade.
Horizonte temporal. Numa cpd o horizonte temporal é o futuro manipulável pelo homem. Numa crp o ênfase é no passado, e a ideia de futuro identifica-se com o destino, reflectindo uma visão fatalística do mundo.
Mundo. Numa cpd o mundo é um campo de acção e de realização que se vê com optimismo. Na crd, o mundo é dominado por forças irresistíveis (Deus ou o Diabo, as empresas multinacionais,a maçonaria, conspirações internacionais) e que se olha com pessimismo, senão mesmo medo.
Vida. Numa cpd a vida "é algo que eu farei". Numa crd "é algo que me acontece".
Optimismo. É cultivado numa cpd. Numa crd a sobrevivência é o objectivo e o pessimismo o sentimento dominante.
(*) Cit. em Lawrence E. Harrison, Who Prospers: How Cultural Values Shape Economic and Political Success, N. York: Basic Books, 1992, pp. 16-19.
Sem comentários:
Enviar um comentário